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Um anticongelante pode estimular a formação de gelo?

Um anticongelante pode estimular a formação de gelo?

Uma nova pesquisa comprova que algumas proteínas anticongelantes podem fazer as duas coisas

Foto: Bielefeld University

Imagem de um chip de pesquisa através de um microscopio: alta concentração de proteínas anticongelantes assegura que as gotas congelem (pontos escuros) a temperaturas menos frias do que usual.

O anticongelamento é um meio de sobrevivência nos invernos muito frios: Proteínas
anticongelantes naturais ajudam peixes, insetos, plantas e até bactérias a sobreviverem em
climas de baixas temperaturas, que de outra forma transformariam seus fluidos corporais em lascas de gelo. Estranhamente, sob condições muito frias, as mesmas proteínas também podem estimular a formação de cristais de gelo. Esta foi a constatação do experimento realizado em Israel e na Alemanha utilizando proteínas extraídas de peixes e besouros. Os resultados desse estudo, publicado na revista The Journal of Physical Chemistry Letters, podem ter implicações na compreensão dos processos básicos de formação de gelo.

Antes de mais nada, as proteínas anticongelantes não impedem a formação de gelo.
Elas envolvem pequenos cristais de gelo – os núcleos que fornecem o “modelo” para o
crescimento de cristais maiores – e os impedem de crescer. As larvas do besouro castanho, por exemplo, têm essas proteínas em sua carcaça externa, para afastar o gelo que poderia romper sua pele frágil.

Os cientistas queriam comparar as proteínas anticongelantes às proteínas naturais
capazes de promover o crescimento de cristais de gelo. Algumas bactérias, por exemplo, são conhecidas por desenvolverem cristais de gelo afiados que rompem a pele dos tomates quando maduros. Embora se acreditasse que essas duas espécies de proteína fossem muito diferentes, estudos científicos anteriores sugerem que têm mais similaridades do que se imaginava. A premissa básica tinha como base a ideia de que as proteínas anticongelantes têm uma região ativa capaz de se ligar ao gelo; e uma região que se liga ao gelo é capaz de suportar a formação de um núcleo inicial de gelo que tem o potencial de se transformar em um cristal de gelo. O problema é que, até agora, havia poucos meios de se isolarem de fato as ações dessas moléculas biológicas.

O presente estudo foi liderado pelo Prof. Thomas Koop da Universidade de Bielefeld na
Alemanha, em colaboração com a equipe do Prof. Ido Braslavsky, da Universidade Hebraica de Jerusalém e do Prof. Yinon Rudich do Instituto Weizmann de Ciências.

O estudo foi possível graças a um dispositivo desenvolvido pela equipe do Prof. Yinon
Rudich, que eles batizaram de WISDOM (Weizmann Supercooled Droplets Observation on a Microarray, ou observação de gotículas super-resfriadas em uma micromatriz do Instituto Weizmann).

Esse dispositivo microfluídico tem canais microdimensionados e coletores de gotículas
que permitiram aos pesquisadores capturar microgotículas de água ultrapura em cada seção. Em seguida, eles adicionaram volumes cuidadosamente calculados de proteínas
anticongelantes purificadas, extraídas de larvas de besouros castanhos ou de uma espécie de peixe que vive no Ártico.

Uma vez adicionadas as proteínas anticongelantes às gotículas, eles resfriavam o
material a temperaturas bem baixas. A água, apesar de já ter sido resfriada a temperaturas
bem abaixo do ponto de congelamento (ou seja super-resfriada), ainda se encontrava em
estado líquido, em parte devido à ausência de impurezas que geralmente faz com que congele a 0 ºC. Desta forma, o gelo se formava somente quando a temperatura da água caía abaixo de -30 ºC. Essa configuração permitiu à equipe se certificar de que qualquer formação de gelo ou atividade que a impedisse se devia tão somente às ações das proteínas.

Embora as microgotículas em água pura, sem qualquer aditivo, começassem a formar
gelo em torno dos -38.5 ºC, em cerca de metade das amostras com proteínas anticongelantes, os cristais de gelo começavam a se formar a uma temperatura mais alta – próxima dos -34 ºC.

Em outras palavras, a determinadas temperaturas, extremas mas não desconhecidas

no planeta, o anticongelamento na verdade se torna pró-congelamento, dando início à
formação de cristais de gelo.

A equipe comparou as duas descobertas ao que se sabe a respeito das proteínas naturais que promovem o crescimento dos cristais de gelo (proteínas nucleadoras de gelo, ou INPs). As INPs são capazes de formar gelo com eficiência a temperaturas mais altas do que
aquelas em que as proteínas anticongelantes alternam seu processo para a formação de gelo.

Os cientistas agora têm a certeza de que a principal diferença está nas dimensões das
proteínas – as INPs são substancialmente maiores. Desta forma, essa constatação acrescenta ao nosso conhecimento tanto da formação de gelo quanto da sua prevenção. Para o Prof. Rudich, cujo trabalho se concentra na atmosfera e no clima, essa informação pode ser útil na compreensão dos processos físicos que afetam a formação de nuvens, em que as proteínas e outras moléculas complexas causam um impacto no desenvolvimento de cristais de gelo nas nuvens.

Proteínas anticongelantes, como as extraídas dos peixes, são utilizadas na atualidade,
entre outras coisas, para manter os sorvetes cremosos e manter superfícies externas
congeladas. Este estudo sugere que essas proteínas pode ter limitações, e poderiam na
verdade promover a formação de gelo quando expostas a temperaturas extremamente frias, como as que atingiram o continente norte-americano este ano. As INPs têm sua utilidade também, por exemplo, em estações de esqui que as utilizam para prolongar a duração da neve, sendo este estudo sobre proteínas anticongelantes, portanto, capaz de melhorar os métodos de geração de proteínas formadoras de gelo.

A pesquisa do Prof. Yinon Rudich tem o apoio do Centro de Pesquisa Nancy e Stephen Grand para Sensores e Segurança; do Centro Dr. Scholl para Recursos Hídricos e Clima; a Fundação da Família de David e Fela Shapell, do Fundo INCPM para Estudos Pré-Clínicos; do Centro da Família Sussman para o Estudo das Ciências Ambientais; do Fundo Beneficente Benoziyo para os Avanços da Ciência; do Instituto Ilse Katz para a Ciência de Materiais e a Pesquisa de Ressonância Magnética; do Centro De Botton de Oceanografia; de Dana e Yossie Hollander; do Fundo de Pesquisa do Câncer de Pulmão Herbert L. Janowsky; de Paul e Tina Gardner; de Adam Glickman; do espólio de Fannie Sherr; e do espólio de David Levinson.

Prof. Avidgor Scherz no Brasil

O cientista do Instituto Weizmann de Ciências é criador de uma terapia disruptiva contra o câncer.

 

O professor Avigdor Scherz do Instituto Weizmann de Ciências (WIS), um dos responsáveis por desenvolver uma inovadora terapia sem efeitos colaterais para o câncer de próstata, fez uma palestra na Congregação Israelita Paulista (CIP) no dia 25 de março. Com o tema “Uma luz para salvar a vida”, deu detalhes sobre como foi o desenvolvimento, juntamente com o falecido Prof. Yoram Salomon, da terapia já disponível em Israel, na Europa, no México e em tramite de aprovação no Brasil pela Anvisa.

A Terapia Fotodinâmica Vascular Dirigida (VTP) com o TOOKAD® demostrou curar câncer de próstata em estádios iniciais em alta porcentagem dos pacientes, e já está sendo pesquisada para outros tipos de câncer. O novo tratamento destrói de forma restrita o tecido cancerígeno sem prejudicar o resto do órgão saudável, portanto não provoca efeitos
colaterais habituais de outras terapias, como por exemplo a impotência. O procedimento é ambulatorial e tem duração aproximada de 90 minutos.

“Combinamos modelos da natureza com tecnologia. Nos organismos vegetais e animais há armas naturais, universais, que servem para destruir os órgãos que não funcionam muito bem. O primeiro passo foi enxergar o tumor maligno como um órgão que funciona errado, e tentar replicar o processo. Finalmente desenvolvemos este sistema que inclui uma droga
fotossensibilizante, o Tookad, que é introduzido no sistema venoso e chega na próstata pelo sangue. Ao iluminar através de uma fibra ótica o local desejado é gerada uma reação em cadeia que acaba destruindo o tumor”, explicou o professor Scherz durante sua palestra.

A transferência tecnológica da ciência básica produzida no Instituto Weizmann de Ciências é conduzida através do Yeda Research & Development, braço de transferência de tecnologia do Instituto Weizmann. Os ensaios clínicos com participação da companhia Steba Biotech e o Hospital Memorial Sloan Kettering Cancer Center são realizados pela transferência de tecnologia e com acordo de royalties, para que a pesquisa
chegue ao paciente na forma de tratamento. O Prof. Scherz, destacou a importância da diversidade para o sucesso do projeto e o ambiente de colaboração entre os pesquisadores envolvidos. “Da primeira ideia guiada pela curiosidade até o medicamento, foram mais de duas décadas de pesquisas”, destacou “mas as próximas indicações da terapia vão demorar muito menos, sete anos no total.”

“Esta pesquisa é disruptiva na área e demostra o grande impacto da ciência produzida no Weizmann, conjugando a excelência dos cientistas e a
multidisciplinaridade da pesquisa”, destacou Mario Fleck, presidente dos Amigos do Weizmann do Brasil.

O Prof. Scherz recebeu numerosos prêmios e é codetentor de 15 patentes que aportaram a base para transferência de tecnologia e estabelecimento de várias Start-ups. Ele estudou na Universidade Hebraica de Jerusalém BSc, MSc e PhD em física, química e biofísica respectivamente. Fez seu pós-doutorado nos Estados Unidos (University of Illinois in Champaign/Urbana e University of Washington em Seattle). Está no Instituto Weizmann de Ciências desde o ano 1983. É membro do Departamento de Plantas e Ciências Ambientais e veio ao Brasil para participar do evento “São Paulo School of Advanced Science on Modern Topics in Biophotonics”, realizado pela USP com apoio da Fapesp, em São Carlos.

Assista a palestra completa no Youtube – clique aqui

A visita teve importante repercussão na mídia:

Pigmento produzido por bactérias aquáticas – FAPESP

Novo tratamento para câncer de próstata não prejudica tecidos saldáveis – Exame

Tratamento inovador contra câncer de próstata desenvolvido no Instituto Weizmann evita impotência – Pretz

Tratamento inovador contra câncer de próstata evita impotência – Notícias R7

Pesquisador do Instituto Weizmann que desenvolveu o Tookad vem ao Brasil – FISESP

Tratamento inovador contra câncer de próstata evita impotência – Gazeta Digital

Palestra com o professor Avigdor Scherz do Instituto Weizmann de Ciências

– Um sopro de esperança no combate ao câncer de próstata – A Tribuna

 

Escola de Verão 2019

Oportunidade para aluno de mestrado no WIS

Oportunidade para aluno de mestrado no WIS

 

O projeto no laboratório do Prof. Dan Yakir do Instituto Weizmann de Ciências consiste em estudar os efeitos da densidade foliar na temperatura da floresta. Um drone com câmeras térmica e multi-espectral será a principal ferramenta do projeto. Comparação com dados de Eddy-covariance também será utilizada.

Contato: jonathan.muller@weizmann.ac.il

 

Dia da Mulher 2019 – Conquistas e desejos


Dia da Mulher 2019
Conquistas e desejos

 

Os Amigos do Weizmann do Brasil homenageiam as mulheres que se apaixonam pela ciência e buscam, a cada dia, transformar o mundo em um lugar melhor.

O Instituto Weizmann de Ciências é reconhecido por ter um time formidável de cientistas mulheres, como a Profa. Ada Yonath, contemplada com o prêmio Nobel de Química. Como a igualdade de oportunidades entre os gêneros é fundamental para o desenvolvimento de ciência de excelência em benefício da humanidade, no ano de 2007 o Weizmann lançou o Programa para o Avanço de Mulheres na Ciência e há mais de dez anos foi formado um comitê específico para o recrutamento
de mulheres.

No site do Instituto há uma página especialmente destinada às mulheres (Advancing Women in Science), onde é possível encontrar informações práticas sobre o desenvolvimento de uma carreira científica, um programa de orientação para estudantes de doutorado e fóruns para estudantes de pós-graduação.

É essencial que as mulheres tenham a real representatividade que lhes cabe. Dos 75 estudantes brasileiros que participaram desde 1983 da Escola de Verão do Instituto Weizmann de Ciências com bolsa integral oferecida pela associação de Amigos do Weizmann do Brasil, 33% (25) foram mulheres, ao longo do tempo, na última década (2008 a 2018) a porcentagem das bolsistas aumentou, foram 41%. E considerando os
últimos 5 anos (2013 a 2018), as alunas superaram os alunos (52% vs. 48%).

É visível como cada vez mais mulheres ocupam o devido espaço. A cientista Camila Freze Baez Nascimento conquistou a primeira bolsa de pós-doutorado “The Morá Miriam Rozen Gerber Fellowship” e a estudante Tally Mergener participou do Programa Internacional Kupcinet Getz para alunos de graduação.

Mas o dia Internacional da Mulher não é apenas uma jornada para dar destaque as suas conquistas, mas para entendermos como elas se sentem, para isso convidamos cinco mulheres brasileiras que receberam bolsas de estudo oferecidas pelos Amigos do Weizmann para nos contar como nasceu a sua paixão pela ciência.

Luiza Coutinho, Carolina Eva Padilha e Ana Clara Cassanti – ex-bolsistas da Escola de Verão do Weizmann, a bióloga Tally Mergener, que participou do último Programa Internacional Kupcinet Getz para estudantes de graduação, e a cientista Camila Freze Baez Nascimento, aluna de pós-doutorado recipiente da “The Morá Miriam Rozen Gerber Fellowship”.

 

 

 

Leia mais: Women in Science

Assista aos vídeos

Luiza Coutinho

Carolina Eva Padilha

Ana Clara Cassanti

Camila Baez

Tally Mergener

A inovação só vem com pessoas excepcionais

A inovação só vem com pessoas excepcionais

Entrevista Prof. Israel Bar Joseph

O vice-presidente de Relações Institucionais do Weizmann, Israel Bar-Joseph, diz que a forma de trabalhar do instituto criado há quase 70 anos não poderia ser mais distante do modelo das grandes indústrias de tecnologia. “O iPhone é um exemplo claro de inovação linear, com metas de negócio. No nosso caso, funciona diferente: acreditamos no processo não linear.” O esquema de trabalho permite associações como a que criou uma nova droga para o tratamento do câncer de próstata. Dois cientistas – um dedicado a pesquisas sobre câncer e outro a algas oceânicas – trocaram experiências e descobriram a droga Tookad, que poderá eliminar em alguns casos a necessidade de cirurgia para tumores na próstata.

Diante do histórico de transformação de inovações em patentes – que rendem um terço de seu orçamento de US$ 500 milhões –, o Weizmann não vê motivos para mudar sua forma de contratação: “Se você me perguntar quantas pessoas vou contratar no ano que vem, a resposta certa é: não sei. Vai depender muito da colheita”, explica Bar-Joseph.

Leia mais: A inovação só vem com pessoas excepcionais

A sensibilidade das plantas

A sensibilidade das plantas

Um novo estudo do Instituto Weizmann de Ciências, mostra que as plantas ajustam a fotossíntese a mudanças rápidas de luz usando um sistema sofisticado de detecção, muito do modo que o olho humano responde a variações na intensidade da luz. Esta regulação opera em intensidades de pouca luz, quando a fotossíntese é mais eficiente, mas também mais vulnerável ao aumento repentino de luz.

O Prof. Avihai Danon, do Departamento de Plantas e Ciências ambientais, e seus colegas avaliaram a fluorescência (luz reemitida pela planta por fotossíntese não produtiva, utilizada como proxy não invasivo para medir os níveis de fotossíntese) com baixa exposição à luz. Como relatado em iScience, os cientistas viram que a fluorescência em vez de subir consideravelmente quando a luz ficou mais forte, subiu por um curto tempo em cada passo e em seguida caiu de volta para o nível inicial. Cada vez seu pico era menor do que na etapa anterior.

Os pesquisadores descobriram que quando a luz ficou mais forte, poucos fótons chegaram ao centro de reação fotossintética da planta, menor numero do que seria esperado a partir do aumento da intensidade da luz. Cada vez, os pesquisadores tiveram que dobrar a intensidade da luz para produzir o mesmo pico de fluorescência do passo anterior, um padrão típico de mecanismos sensoriais em bactérias, animais e seres humanos. As plantas têm esta estratégia para quando as circunstâncias mudam. Por exemplo, quando as nuvens vêm e vão ou quando o vento altera o ângulo das folhas ao sol.

Estas descobertas fornecem evidências de que em condições de pouca luz, os mecanismos de controle da fotossíntese assemelham-se àqueles que operam em sistemas sensoriais como o da visão humana, por exemplo.

Leia notícia completa: Plants Blink: Proceeding with Caution in Sunlight

Novo Centro de Inovação em Educação Científica

Dr. Yossi Elran

  Novo Centro de Inovação em Educação Científica

Muitos cientistas e educadores têm excelentes ideias como, por exemplo,
um aplicativo para ensinar física ou uma nova maneira de fazer gráficos de
padrões climáticos, mas não sabem como fazer para que estes conceitos
se desenvolvam em projetos. Concebido como um centro de pesquisa,
desenvolvimento e integração para o empreendedorismo na educação
científica o novo Centro identifica ideias inovadoras, iniciativas
promissoras e criativas de dentro do Instituto Davidson do Weizmann ou
oportunidades externas, além de oferecer orientação para avaliar a
sustentabilidade dessas ideias e promover parcerias.

Um dos primeiros projetos a emergir do Centro de inovação é uma série
de vídeos feitos em colaboração com a El Al Israel Airlines, explicando a
ciência por trás do mais novo membro de sua frota: o Dreamliner. Os
clipes de vídeo estão no site da Davidson, e em breve será exibido nos
vôos da El Al Dreamliners.

A incubadora do Centro de Inovação em Educação Cientifica do Instituto
Davidson, está sob a direção do Dr Yossi Elran (foto)

Leia matéria completa: Innovation takes flight

A Fonte da Juventude do Sistema Imunológico

O tratamento elimina células senescentes dos tecidos no camundongo idoso. A tinta azul mostra (acima) as células senescentes em tecido do fígado (Liver) e pulmão (Lung). A quantidade de tinta se reduz marcadamente após tratamento (embaixo)

 A Fonte da Juventude do Sistema Imunológico

O auxílio ao sistema imunológico para limpar células antigas em camundongos idosos ajudou a restaurar características da juventude

Como seria se pudéssemos manter o nosso corpo jovem, saudável e com energia, inclusive à medida que alcançamos a sabedoria da nossa idade. Uma investigação recente do Instituto Weizmann de Ciência sugere que esse sonho pode ser alcançável no futuro, pelo menos parcialmente. Os resultados dessa investigação, liderada pelo Prof. Valery Krizhanovsky e pelo Dr. Yossi Ovadya no Departamento de Biologia Celular Molecular, foram recentemente publicados na revista científica Nature Communications.

A investigação foi iniciada com uma pesquisa sobre a maneira como o sistema imunológico se encontra envolvido numa atividade essencial: limpar células idosas senescentes que são perigosas quando permanecem no organismo. As células senescentes – que não estão completamente mortas mas já sofreram perda de função ou danos irreparáveis – foram associadas com doenças do envelhecimento, promovendo a inflamação. Os investigadores usaram camundongos que não tinham um gene essencial para essa atividade imunológica. Aos dois anos os organismos desses camundongos (idosos, segundo os seus padrões) tiveram uma maior acumulação de células senescentes quando comparados com os camundongos nos quais o gene de remoção dessas células estava intacto. Os camundongos que não tinham o gene tiveram inflamação crônica, e diversas funções do seu organismo ficaram aparentemente diminuídas. Eles também pareciam mais idosos – e morreram mais cedo – do que os camundongos normais.

De seguida, os investigadores administraram um medicamento aos camundongos que inibe a função de proteínas específicas que ajudam as células idosas a sobreviver no seu estado senescente, para ver se isso poderia contribuir para a remoção dessas células do organismo. Os medicamentos foram administrados aos camundongos nos quais o envelhecimento resultava das perturbações que o grupo tinha descoberto no sistema imunológico, bem como aqueles que sofriam de envelhecimento prematuro derivado de um erro genético diferente. Os camundongos submetidos ao tratamento responderam excecionalmente bem ao medicamento: Os testes sanguíneos e de atividade mostraram melhoria, e os tecidos eram muito mais parecidos com os de camundongos jovens. Os cientistas contaram as células senescentes, encontrando muito menos células nos organismos dos camundongos submetidos ao tratamento; e quando procuraram sinais de inflamação, concluíram que o grau também era significativamente menor. Os camundongos submetidos ao tratamento com o medicamento eram mais ativos, e a sua esperança média de vida aumentou.

A investigação do Prof. Valery Krizhanovsky é apoiada pelo Sagol Institute for Longevity Research; o Ilse Katz Institute for Material Sciences and Magnetic Resonance Research; a Rising Tide Foundation; a Quinquin Foundation; o Sr. e a Sra. Bruce Kanter; e o Conselho Europeu de Investigação.

O Instituto Weizmann de Ciência em Rehovot, Israel, é uma das instituições de investigação multidisciplinar melhores classificadas do mundo. Respeitada pela sua ampla exploração das ciências naturais e exatas, o Instituto é a casa de cientistas, alunos, técnicos de pessoal de apoio. Os esforços de investigação do Instituto incluem a pesquisa de novas maneiras de combater a doença e a fome, examinar as principais perguntas de matemática e ciência da computação, investigar as propriedades físicas da matéria e do universo, criar materiais originais e desenvolver novas estratégias para proteger o ambiente.

As importinas da ansiedade

As importinas da ansiedade

O descobrimento de um novo mecanismo neural por trás da ansiedade aponta para possíveis tratamentos.

Segundo algumas estimativas, até uma em cada três pessoas em todo o mundo sofrem de ansiedade severa em suas vidas. Em um estudo publicado hoje na revista Cell Reports, pesquisadores do Instituto Weizmann de Ciências revelaram um mecanismo até então desconhecido por trás da ansiedade. Tentar entender essa trajetória bioquímica pode ajudar a desenvolver novas terapias para aliviar os sintomas de ansiedade.

 

“Os medicamentos atuais contra a ansiedade têm eficácia limitada ou efeitos colaterais indesejáveis, o que também limita sua utilidade. Nossas constatações poderão ajudar a superar essas limitações. Em uma pesquisa subsequente, já identificamos uma série de candidatos a medicamentos cujo alvo são as vias recentemente descobertas.”

Prof. Mike Fainzilber
Departamento de Ciências Biomoleculares
Instituto Weizmann de Ciências

 

O laboratório do Prof. Mike Fainzilber no Departamento de Ciências Biomoleculares do Instituto estudou por cerca de duas décadas as funções neuronais das proteínas conhecidas como importinas. Essas proteínas, encontradas em todas as células, transportam moléculas para o núcleo. O trabalho anterior do laboratório concentrou-se no sistema nervoso periférico (todos os tecidos nervosos no organismo, exceto o cérebro e a espinha dorsal). O estudante de pós-doutorado Dr. Nicolas Panayotis, que se juntou ao grupo em 2012, decidiu descobrir se algumas importinas também desempenham uma função no sistema nervoso central, ou seja, no cérebro e na espinha dorsal.

Panayotis e seus colegas estudaram cinco castas de camundongos, modificados por engenharia genética no laboratório do Prof. Michael Bader no centro de medicina molecular Max Delbrück em Berlim, eliminando genes da subfamília alfa de importinas. Os pesquisadores submeteram esses camundongos a uma bateria de ensaios comportamentais e descobriram que uma das castas – a que não expressava importinas alfa-5 – se destacava de forma exclusiva: Esses camundongos não demonstravam ansiedade em situações de estresse, ao serem deixados em grandes áreas expostas ou em uma plataforma muito elevada e aberta.

Os pesquisadores verificaram então como esses camundongos “mais calmos” se diferenciavam dos demais em termos de expressão genética em determinadas regiões do cérebro envolvidas no controle da ansiedade. Análises computadorizadas indicaram o MeCP2, um gene regulador que sabidamente afeta comportamentos de ansiedade. Constatou-se então que a importina alfa-5 era crítica para permitir a entrada do MeCP2 no núcleo dos neurônios. Mudanças nos níveis de MeCP2 no núcleo, por sua vez, afetaram os níveis de uma enzima envolvida na produção de uma molécula sinalizadora, conhecida como S1P. Nos camundongos sem a importina alfa-5, o MeCP2 não era capaz de entrar no núcleo dos neurônios controladores da ansiedade, reduzindo assim a sinalização da S1P e a ansiedade por conseguinte.

Na esquerda, neurônios do cérebro de camundongo normal onde a molécula MeCP2 (vermelha), relacionada a comportamento ansioso ingressa no núcleo (azul) dos neurônios. A direita, em camundongo geneticamente modificado sem a proteína importina alfa 5, a molécula MeCP2 (vermelha), relacionada a comportamento ansioso permanece fora do núcleo (azul) dos neurônios.

 

Após a realização de experimentos adicionais para confirmar que haviam de fato descoberto um novo mecanismo regulador da ansiedade no cérebro, os pesquisadores passaram a buscar moléculas que pudessem modificar esse mecanismo. Eles chegaram à conclusão de que já existem medicamentos que modulam a sinalização da S1P; um desses compostos, a fingolimode, é utilizado para tratar diversos tipos de esclerose. Quando os pesquisadores testaram os efeitos da fingolimode em camundongos normais, as cobaias demonstraram níveis mais baixos de ansiedade, semelhantes aos dos camundongos modificados geneticamente para eliminar o gene da importina alfa-5. Além disto, os pesquisadores encontraram um relato mais antigo, de um experimento clínico com fingolimode, segundo o qual o medicamento exercia um efeito calmante em pacientes com esclerose múltipla. O novo estudo poderá agora ajudar a explicar por que isto acontecia.

“Nossas constatações abriram um novo caminho para a pesquisa dos mecanismos da
ansiedade” – disse Panayotis. “Se compreendermos exatamente como a via que descobrimos controla a ansiedade, isto poderá nos ajudar a desenvolver novos medicamentos, ou a direcionar a utilização dos que já estão disponíveis, para aliviar os sintomas.”

Fainzilber: “Os medicamentos atuais contra a ansiedade têm eficácia limitada ou efeitos
colaterais indesejáveis, o que também limita sua utilidade. Nossas constatações poderão
ajudar a superar essas limitações. Em uma pesquisa subsequente, já identificamos uma série de candidatos a medicamentos cujo alvo são as vias recentemente descobertas.”

As constatações do estudo também representam uma nova luz sobre distúrbios genéticos
raros, caracterizados por mutações no gene MeCP2: A síndrome de Rett e a síndrome de
duplicação de MeCP2. Ambas são caracterizadas pela ansiedade, entre outros sintomas. A
identificação precisa do mecanismo responsável pela entrada de MeCP2 no núcleo dos
neurônios poderá, futuramente, ajudar a desenvolver terapias para essas doenças.

Participaram dessa pesquisa: Dr. Shachar Y. Dagan, Anna Meshcheriakova, Dr. Sandip Koley, Dra. Letizia Marvaldi, Didi-Andreas Song and Prof. Eitan Reuveny do Departamento de Ciências Biomoleculares do Instituto Weizmann; Dr. Anton Sheinin da Universidade de Tel Aviv; Prof. Izhak Michaelevski da Universidade de Ariel; Dr. Michael M. Tsoory do Departamento de Recursos Veterinários do Instituto Weizmann; Dra. Franziska Rother, Prof. Enno Hartmann e Prof. Michael Bader do Centro de Medicina Molecular Max Delbrück em Berlim, Alemanha; Dr. Mayur Vadhvani e Profa. Britta Eickholt da Charité Universitätsmedizin, também em Berlim.

A pesquisa do Prof. Michael Fainzilber tem o apoio do Laboratório Laraine e Alan A. Fischer de Espectrometria de Massa Biológica; da Fundação de Pesquisa Médica da Dra. Miriam e Sheldon G. Adelson; o Programa Zuckerman de Liderança em STEM; a Fundação Rising Tide; Sr. e Sra. Lawrence Feis; o espólio de Florence e Charles Cuevas; o espólio de Lilly Fulop; e o Conselho Europeu de Pesquisa. O Prof. Fainzilber é o titular da cadeira professoral de neurociências moleculares de Chaya.