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“Mini cérebro em chip” revela como se formam as dobras cerebrais

Um novo modelo de estudo do desenvolvimento do cérebro baseado em física e biologia permitiu uma melhor compreensão do que faz o cérebro ter dobras. A pesquisa balizará novos estudos no desenvolvimento cerebral em casos de microcefalia, esquizofrenia e epilepsia.

Os cérebros nascem com dobras e a falta delas provoca a síndrome
do cérebro liso, transtorno com deficiências severas no desenvolvimento e
diminuição marcada da expectativa de vida. O gene que causa esta
síndrome ajudou pesquisadores do Instituto Weizmann de Ciências a
estudar a física que gera as dobras no cérebro. No reporte da pesquisa,
publicada esta semana na revista Nature Physics, os cientistas mostram o
método que desenvolveram para fazer crescer mini cérebros em
laboratório a partir de células humanas, o que os permitiu seguir o
mecanismo físico e biológico do desenvolvimento das dobras do cérebro.

O avanço aconteceu no departamento de Genética Molecular
liderado pela professora Orly Reiner, cientista que já esteve no Brasil e
que mantem uma parceria FAPESP com a Dra. Andrea Sertié do Hospital
Israelita Albert Einstein. No laboratório da professora Reiner, um físico, o

Dr. Eval Karzbun, desenvolveu um novo enfoque para crescer organóides
sem alguns dos problemas das técnicas já existentes. Um deles é que sem
vasos sanguíneos, o organóide morre por não consegue ter abastecimento
de nutrientes apropriados. Na nova técnica, o Dr. Karzbum limitou o
crescimento na vertical, ficando o mini cérebro de laboratório com
formato de “pita”: redonda e achatada, com um espaço delgado no meio.
Assim, conseguiram abastecer de nutrientes a todas as células. Na
segunda semana, começaram a aparecer as dobras, e logo a se
aprofundar. Foi a primeira vez que isso foi observado nos organóides.

Karzbrum procurou modelos físicos para compreender a formação
das rugas. Elas seriam resultado de uma instabilidade mecânica, e logo
encontraram essa instabilidade mecânica: o esqueleto interno das células
do centro do organóide se contraíam, e o núcleo das células da superfície
se expandia. Como se a a parte exterior da “pita” crescesse mais rápido do
que o seu interior. Repetiram a pesquisa com organóides criados com
células com o gene mutado que a professora Reiner tinha identificado no
ano de 1993 como causa do cérebro liso, problema que afeta a uma em
cada 30.000 nascimentos, um gene envolvido na migração das células
nervosas durante o desenvolvimento embrionário, que regula o cito
esqueleto e os motores moleculares da célula. Os organóides com o gene
mutado cresciam na mesma proporção dos outros, mas desenvolviam
poucas dobras, e as poucas que apareciam não se envolviam da mesma
forma que as rugas normais. O estudo com microscopia da forca atômica
permitiu medir a elasticidade: as células sadias eram o dobro de rígidas
do que as mutadas. Ou seja, os dois organóides obtidos no laboratório (de
células normais e mutadas) tinham propriedades físicas e biológicas
muito diferentes.

Este novo modelo de estudo do desenvolvimento do cérebro
desenvolvido no Instituto Weizmann de Ciências permitiu uma melhor
compreensão do que faz o cérebro ter dobras. Esperam agora poder
estudar melhor outros processos que envolvem o desenvolvimento
cerebral como microcefalia, esquizofrenia e epilepsia.

Fonte: “Brain on a Chip” Reveals How the Brain Folds

Genética ou estilo de vida?

 Estudo feito com 1000 israelenses que participaram em uma pesquisa de nutrição personalizada e suas bactérias oferece uma nova esperança para melhorar a saúde.

São muitas as evidências científicas de que as bactérias que carregamos no corpo, chamadas em conjunto microbiota, afetam a nossa vida. A composição, que varia de pessoa a pessoa, influencia aspectos tão importantes como a perda de peso ou estado de ânimo.

Uma corrente científica sugere que a diferença na composição do conjunto de bactérias de uma pessoa e outra se deve aos genes. Agora, uma pesquisa realizada no Instituto Weizmann de Ciências e publicado na revista Nature desafia esta ideia, trazendo evidências de que a genética humana explica apenas um 2% da variação entre populações. Além disso, o trabalho traz sinais de que a relação entre microbiota e saúde pode ser mais importante do que o esperado.

Os dados provém de 1000 israelenses que participaram em uma pesquisa de nutrição personalizada.  Os cientistas pesquisaram as conexões entre as caraterísticas dos microbiotas e os dados como colesterol, peso e glicose sanguínea e estabeleceram associações entre determinados microbiotas e as medições clínicas. Grande foi a surpresa ao constatar que a associação era equivalente ou superior a quando se analisava apenas a genética. São boas notícias, porque frente a impossibilidade de mudar os genes, alterar a composição das bactérias que levamos no corpo pode ser uma maneira muito poderosa de cuidar da saúde.

A pesquisa foi realizada no laboratório do Prof. Eran Segal do Departamento de Ciências da Computação e Matemática Aplicada, junto à equipe do Prof. Eran Elinav, do Departamento de Imunologia.

 

Leia mais: Genetics or Lifestyle: What Is It That Shapes our Microbiome?

O Instituto Weizmann de Ciências fortalece os laços com América Latina

O presidente do Instituto Weizmann de Ciências, Professor Daniel Zajfman visitou Montevideo no 22 de janeiro para anunciar, junto com o Presidente do Uruguai, Dr. Tabaré Vázquez, a criação de uma bolsa de estudos de pós-doutorado para um cientista uruguaio. Financiada pelos governos de Uruguai, de Israel e pelo Instituto Weizmann, a bolsa faz parte de um fortalecimento dos vínculos com America Latina.

No evento participaram: Dany Schmit,  CEO para América Latina do Instituto Weizmann, Mario Fleck, Presidente dos Amigos do Weizmann do Brasil, Mariano Zalis, Vice-Presidente para o Rio de janeiro, Carolina Cosse,  Ministra de Indústria, Energia e Minas do Uruguai, e a Embaixadora de Israel no Uruguai, Nina Bem Ami. Foi também apresentada formalmente a Asociación de Amigos del Instituto Weizmann en Argentina, com a presencia do seu presidente, Hugo Sigman.

O Presidente Vázquez lembrou-se do período em que ele mesmo cursou estudos superiores no Instituto Weizmann. Destacou nesta ocasião “meu sonho é que jovens cientistas uruguaios possam ir estudar em Israel, e tenham a possibilidade de se enriquecer humana e cientificamente, e dar depois a este país os conhecimentos que ajudem a melhorar as nossas condições de vida”.

O professor Zajfman fez questão de mencionar o fortalecimento das relações entre o Instituto Weizmann e vários países da America Latina. “A ciência não se faz no vácuo, na solidão. Uma das grandes vantagens é que a ciência é um idioma universal. O que interessa não é apenas o conhecimento, mas o que cada pessoa pode oferecer, e as visões diferentes. É por isso que, para enriquecer o campo das ciências, a cooperação é tão importante”.

Alicia Kowaltoski: membro titular da Academia Brasileira de Ciências

academia brasileira de ciências A professora Alicia Kowaltowski  colaboradora científica da Associação de Amigos do Weizmann do Brasil e membro da comissão avaliadora das bolsas para a Escola de Verão iniciará este ano a sua atividade como membro titular da  Academia Brasileira de Ciências (ABC).

A Academia Brasileira de Ciências é uma das mais antigas associações de cientistas no país e reconhecidamente a mais prestigiosa dessas entidades. É uma entidade independente, não governamental e sem fins lucrativos, que atua como sociedade científica honorífica e contribui para o estudo de temas de primeira importância para a sociedade, visando dar subsídios científicos para a formulação de políticas públicas. Seu foco é o desenvolvimento científico do país, a interação entre os cientistas brasileiros e destes com pesquisadores de outras nações.

Alicia iniciou a sua carreira científica no Instituto Weizmann participando da Escola de Verão no ano 1992, quando estava no primeiro ano da faculdade de Medicina na UNICAMP. 

Visite: Academia Brasileira de Ciências

Fora dos Trilhos: Como as Tempestades serão desviadas em um Mundo mais Aquecido

Pesquisas do Instituto Weizmann de Ciências desvendam os mecanismos internos que direcionam as tempestades em direção aos polos

Por força das mudanças climáticas globais, as zonas climáticas da Terra vão se deslocar para os polos. Não se trata de uma mera previsão para o futuro; trata-se de uma tendência que já tem sido observada há algumas décadas. As regiões secas e semiáridas estão se expandindo e se deslocando para altitudes superiores e as regiões temperadas e chuvosas estão migrando em direção aos polos. Em um artigo publicado recentemente na revista Nature Geoscience, os pesquisadores do Instituto Weizmann de Ciências oferecem uma nova perspectiva em relação a esse fenômeno, ao descobrirem que as tempestades em latitudes centrais estão se direcionado para mais perto dos polos, com o clima mais quente. As análises desses pesquisadores, que também revelaram os mecanismos físicos que controlam esse fenômeno, envolveram uma abordagem exclusiva que traçou o avanço dos sistemas climáticos de baixa pressão, tanto do exterior – em seus movimentos em torno do planeta – quanto do interior – análises da dinâmica das tempestades.

Colapsos de Estrelas de Nêutrons observados pela primeira vez

Cientistas do Instituto Weizmann ajudam a confirmar e analisar a fusão de estrelas

Uma equipe internacional de pesquisa, da qual fazem parte físicos do Instituto
Weizmann de Ciências, conseguiu pela primeira vez observar uma fusão de duas
estrelas de nêutrons em colisão. A fusão foi captada simultaneamente por três detectores
construídos para este fim: os dois detectores que pertencem ao Observatório de Ondas
Gravitacionais por Interferômetro a Laser (Laser Interferometer Gravitational-Wave
Observatory – LIGO), nos Estados Unidos, e o detector Virgo, na Itália. Essa observação pode ajudar a determinar como elementos pesados como urânio, iodo e ouro
se formaram bem como a fortalecer nossa compreensão em relação a alguns dos eventos
mais violentos na história do universo.
A fusão foi observada no dia 17 de Agosto e anunciada ao público no dia 16 de
Outubro. A análise das observações está sendo publicada em uma série de periódicos
científicos, inclusive nas revistas The Astrophysical Journal, Nature e Sience.
Há dois anos, em Setembro de 2015, o detector do LIGO já havia gerado uma
perspectiva sensacional: Ele permitiu que os cientistas observassem as ondas
gravitacionais pela primeira vez na história. Essas ondas, previstas por Albert Einstein
cem anos antes, vieram de uma colisão entre dois buracos negros imensos e levaram 1,3
bilhões de anos para chegarem à Terra. No despertar da descoberta, o Prêmio Nobel de
Física de 2017 foi concedido no início do mês “pelas contribuições decisivas para o
detector LIGO e para a observação das ondas gravitacionais.”
A recém-detectada colisão e fusão de duas estrelas de nêutrons ocorreu em uma data
relativamente “recente”: A radiação da fusão levou “apenas” cerca de 100 milhões de
anos para chegar à Terra. Mas o mais importante é que ela forneceu aos cientistas mais
informações do que a colisão dos buracos negros. “Quando buracos negros colidem, a
única coisa que podemos detectar são ondas gravitacionais; tudo o mais é engolido pelo
fenômeno” – disse o Prof. Avishay Gal-Yam do Departamento de Astrofísica e Física
de Partículas do Instituto Weizmann. “No entanto, as estrelas de nêutrons são
relativamente mais leves do que os buracos negros, de forma que, ao colidirem e se
fundirem, uma pequena parcela de sua massa e de sua radiação escapa e pode ser
detectada em conjunto com as ondas gravitacionais.”
Ao contrário dessas ondas, que são captadas pelos detectores por uma fração ínfima de
um segundo, o restante da radiação da colisão das estrelas de nêutrons permanecem
detectáveis por vários dias. Esse fator se apresentou nas formas mais convencionais,
inclusive por meio raios X, gama, ultravioleta e infravermelhos, assim como por meio
de luz visível. “Inúmeros telescópios haviam captado essa radiação como um novo ponto no céu, mas a princípio, não tínhamos certeza de que esse ponto seria uma colisão
de estrelas captada pelo LIGO e pelo Virgo” – afirmou o Prof. Eran Ofek, também do
Departamento de Astrofísica e Física de Partículas do Instituto Weizmann.

Cientistas em todo o mundo, inclusive da equipe do Prof. Ofek no Instituto Weizmann,
analisaram os dados da colisão, confirmando, em última instância, que o ponto era, na
verdade, uma assinatura óptica – ou seja, um evento óptico observável – da fusão de
estrelas de nêutrons, captada pelos detectores. Em particular, Ofek e outros cientistas
demonstraram que tudo indicava que a radiação seria proveniente de uma fusão de
estrelas de nêutrons. O pesquisadores determinaram que a matéria emitida atingiu um
volume equivalente a um centésimo da massa do sol, e que essa matéria se deslocou à
velocidade de um quarto da velocidade da luz. “Foi a primeira vez que uma massa de
tal dimensão foi vista se deslocando a uma velocidade tão grande” – disse Ofek.

A análise espectroscópica da radiação, realizada por Gal-Yam e outros cientistas,
forneceu provas de que a fusão resultou na formação de elementos pesados. Os
pesquisadores têm uma ideia relativamente boa de como os elementos leves se
formaram, mas a origem dos elementos pesados é um mistério de longa data. Uma
teoria sugeria que uma fonte plausível desses elementos seriam as fusões de estrelas de
nêutrons: Essas estrelas contêm tantos nêutrons condensados que a colisão da estrela,
causando um bombardeamento rápido desses nêutrons uns contra os outros, poderia
gerar condições favoráveis à formação de núcleos ricos em nêutrons, característicos dos
elementos pesados. “Essa previsão teórica havia sido feita há pelo menos meio século,
mas agora finalmente temos provas de que pode estar realmente certa” – afirmou Gal-
Yam. “Todo os elemento na natureza emite e absorve luz de uma parte diferente do
espectro, e é assim que podemos dizer que elementos emitiram a radiação detectada.”

Entre os elementos pesados identificados pelos cientistas, havia alguns exóticos, como o
telúrio, mas também outros mais comuns, como o césio e o iodo. “Nossas constatações
sugerem, entre outras coisas, que todos os átomos de iodo na Terra, incluindo o iodo
que colocamos em nossas feridas, vieram de um passado distante, da fusão de estrelas
de nêutrons” – disse Gal-Yam. Ele acrescentou que elementos extremamente pesados,
como o ouro e o urânio, foram igualmente criados em fusões de estrelas de nêutrons,
mas por motivos ainda não compreendidos, não foram identificados na fusão captada.

Ofek e Gal-Yam fazem parte de diversas iniciativas de colaboração científica que
analisam dados de fusões de estrelas de nêutrons. Análises adicionais dos dados
prometem esclarecer mais sobre as origens dos elementos pesados e fornecer respostas a
outras questões não resolvidas em relação à natureza da gravidade e as mortes
explosivas de estrelas.

A pesquisa do Prof. Avishay Gal-Yam tem o apoio do Fundo Beneficente Benoziyo para o Avanço da Ciência; do Centro de Pesquisa Básica Yeda-Sela; do Instituto Deloro de Pesquisa Espacial e Óptica Avançadas; e de Paul e Tina Gardner. O Prof. Gal-Yam foi o vencedor do prêmio Helen and Martin Kimmel de Inovação em Pesquisas.

Nos autistas, o cheiro de medo gera tranquilidade

Dois grupos de pessoas foram expostas ao “odor de medo”, um cheiro que os corpos emanam em situação de estresse, mas que não é percebido de forma consciente. O corpo humano, porém, reage a ele. Foi nessa reação involuntária que os cientistas do Instituto Weizmann fizeram agora uma grande descoberta.

Tal como foi publicado na revista Nature Neuroscience, o cheiro de medo provoca nas pessoas do espectro autistaa as mesmas mudanças fisiológicas que provoca o cheiro a tranquilidade nas pessoas fora do espectro. E o contrário também se verifica.

Agora, com a descoberta do laboratório de Neurobiologia do Instituto Weizmann de Ciênicas, sabe-se que o autismo não envolve apenas a incapacidade de interpretar expressões faciais, mas estaria também concectado a esta comunicação não verbal que afeta o comportamento.

Como as Bactérias Dificultam a Quimioterapia

Cientistas descobrem bactérias em tumores pancreáticos que metabolizam uma droga comum

Agora podemos acrescentar mais um motivo às diversas razões pelas quais a quimioterapia muitas vezes não dá resultado. Em um estudo publicado hoje na revista Science, pesquisadores descrevem achados de que determinadas bactérias podem ser encontradas no interior de tumores pancreáticos em seres humanos. Para além disso, algumas dessas bactérias contêm uma enzima que torna inócua uma droga comum utilizada para tratar diversos tipos de câncer, inclusive o câncer de pâncreas. Trabalhando com modelos de câncer em camundongos de laboratório, os cientistas demonstraram como o tratamento com antibióticos combinado com a quimioterapia pode ser significativamente superior ao tratamento somente com a quimioterapia.

A pesquisa foi conduzida no laboratório do Dr. Ravid Straussman, do Departamento de Biologia Celular Molecular do Instituto Weizmann de Ciências, liderado pela aluna de pós-graduação, Leore Geller, e conduzida em colaboração com o Dr. Todd Golub e o Dra. Michal Barzily-Rokini, do Instituto Broad do Massachusetts Institute of Technology. Diversos outros colaboradores prestaram suporte a diferentes aspectos do estudo.

“As bactérias descobertas pelo grupo” – explica Straussman – “vivem no interior dos tumores e até mesmo no interior das células desses tumores. Como o tema é uma novidade no setor, utilizamos inicialmente métodos diferentes para comprovar que havia de fato bactérias no interior dos tumores. Só então decidimos observar os efeitos que essas bactérias causariam na quimioterapia.”

Os pesquisadores isolaram as bactérias de tumores de pacientes com câncer de pâncreas e testaram sua influência na sensibilidade das células de câncer pancreático à gencitabina, a droga da quimioterapia. Na verdade, algumas das bactérias inibiam os efeitos da droga. Investigações adicionais mostraram que essas bactérias metabolizam a droga, tornando-a ineficaz. Os pesquisadores conseguiram encontrar o gene responsável por essa metabolização nas bactérias, o gene conhecido como Citidina deaminase (CDD). Os cientistas demonstraram que o CDD se manifesta de duas formas: uma longa e uma curta. Somente bactérias com o gene CDD do tipo longo são capazes de inutilizar a gencitabina. A droga não exerce efeitos visíveis nas bactérias.

O grupo analisou mais de 100 tumores pancreáticos humanos para comprovar que essas bactérias em particular tinham o CDD longo atuando nos tumores pancreáticos dos pacientes. Eles também utilizaram vários métodos para visualizar as bactérias no interior dos tumores pancreáticos em seres humanos. Trata-se de uma medida crítica, uma vez que a contaminação por bactérias é um problema real nos estudos laboratoriais.

Por mais estranho que pareça, foi uma incidência anterior da contaminação bacteriana que levou Straussman e sua equipe ao presente estudo. O grupo estava em busca de evidências de que células normais no ambiente canceroso contribuem para a resistência contra a quimioterapia. Não obstante aos ensaios com os efeitos de diversas células humanas normais e não cancerosas em relação à sensibilidade das células cancerosas à quimioterapia, os cientistas descobriram uma amostra específica de células cutâneas humanas que tornavam as células cancerosas do pâncreas resistentes à gencitabina. Ao rastrear a causa, a equipe descobriu acidentalmente as bactérias que contaminaram as citadas células cutâneas. “Quase jogamos a amostra fora” – disse Straussman – “mas finalmente, decidimos acompanhar sua evolução.” Depois de revelar como essas bactérias degradavam a droga, a equipe começou a especular sobre outras bactérias com mecanismos semelhantes para anular os efeitos da droga, e se essas bactérias seriam encontradas no organismo humano.

No presente estudo, experimentos adicionais em camundongos de laboratórios com câncer foram realizados com dois grupos de bactérias: as que continham o CDD do tipo longo e as que haviam suprimido esses genes. Somente o grupo com o gene CDD intacto demonstrou resistência quando a droga era dada aos camundongos. Após o tratamento com antibióticos, esse grupo também reagiu à droga da quimioterapia.

Diversas perguntas ainda estão em aberto e Straussman e seu grupo estão agora estudando a presença dessas bactérias em outros tipos de câncer que, caso existam,levantam questões sobre quais seriam os efeitos que essas bactérias teriam sobre o câncer e sua sensibilidade a outras drogas de combate ao câncer, incluindo a nova família de drogas anticâncer imunomediadas.

A pesquisa do Dr. Ravid Straussman tem o apoio do Fundo Dr. Dvora and Haim Teitelbaum; do fundo de doações Hymen T. Milgrom Trust; da fundação Rising Tide; e do Sr. e Sra. Andrew R. Morse. O Dr. Straussman ocupa a cadeira de Roel C. Buck no setor de Desenvolvimento de Carreiras.

Dra. Liat Ben David no Brasil

A Dra. Liat Ben David, Diretora do Instituto Davidson de Educação em Ciências do Instituto Weizmann de Ciências, visitou São Paulo nos dias 3 e 4 de outubro, onde realizou reuniões com escolas, pessoas e instituições vinculadas à educação.

Em parceria com FABERACE-USP e a Escola Alef-Peretz foi relizado um painel sobre “Diálogos entre Universidade e Escola”, onde expôs a experiência do Weizmann enquanto Roseli de Deus Lopes expôs a experiência da FEBRACE-USP. Representantes de muitas escolas e instituições participaram do evento, inclusive do Rio Grande do Sul, Porto Alegre e Rio de Janeiro, e a troca de experiências foi rica e muito interessante.

Em Israel, a Dra. Ben David é uma referência nacional no quesito Educação, desenvolveu currículos de ciências para escolas primárias e secundárias, escreveu quase 20 livros texto em vários campos de estudo, criou o Centro para o Conhecimento e Aprendizado para profissionais que trabalham com jovens em situação de risco e agora é uma entusiasta de redirecionar a Educação. “Não precisamos de mais uma reforma educativa, o que precisamos é uma revolução”, propõe. “Queria trabalhar com pessoas e não com tubos no laboratório”, responde de maneira simples quando é questionada a propósito de ter abandonado a vida de cientista (obteve o seu PhD na área da Biologia Molecular, concretamente a genética do câncer no Instituto Weizmann), e ter começado a estudar educação vinte seis anos atrás. Esse aprendizado nunca parou, segundo ela, porque a educação “é uma profissão multidisciplinar fascinante em evolução continua”.

Rerouting Education
A Dra Ben David critica com entusiasmo contagiante o sistema educativo, que ela considera rígido demais e altamente padronizado, é se opõe a que a escola continue a aportar aos alunos fatos e números que hoje estão disponíveis de graça. Assim, com energia de militante, fala de redirecionar a educação. “Precisamos uma mudança de paradigma”, propõe com entusiasmo.

Com esse objetivo, e para dar um arcabouço as suas ideias, parafraseou o presidente americano T. Roosevelt, e preconiza os Four freedoms of Education (Quatro liberdades da Educação). Liberdade de curriculum, avaliação nos processos, e não nos resultados, a importância do fracasso e o valor emocional do conteúdo são alguns dos conceitos. O caminho que ela enxerga para um futuro melhor é um tripé: Conhecimento ativo, Contação de histórias e Socialização. Oferecidas recentemente numa palestra TedX, as ideias da Dra. Ben David estão disponíveis aqui.

Projetos nacionais e internacionais. O Instituto Davidson de Educação em Ciências que ela dirige é fonte de inspiração e inovação através de mais de 70 programas para alunos, professores, acadêmicos da área de educação, membros do governo e público do mundo todo.

Para os que moram em Israel, o Instituto Davidson possui o Garden of Science, que recebe pessoas de todas as idades, e tem programas interativos específicos. Dentre eles, ela destaca “o de empoderamento da comunidade etíope em Israel, e os destinados para os que estão em risco de abandonar a escola”. Os programas do Instituto Davidson são sempre atividades sociais e interativas, nem sempre dentro do campus do Instituto Weizmann, muitas vezes participar nelas exige até dormir no deserto para fazer experimentos.

As atividades locais combinam-se com as globais. Pertence também ao Instituto Davidson o programa da Escola de verão internacional (ISSI), que já recebeu mais de 70 brasileiros desde o ano 1982, e os programas Science by mail e Math by mail, atividades on line que há anos que contam com participantes do Brasil.

A Dra. Ben David se empolga quando fala de um outro projeto internacional mais recente, o Safe cracking tournament, que este ano envolve equipes de 17 países e terá seletivas no Canada, Panamá, Reino Unido e Eslovênia. Nele, cada time de hasta cinco alunos têm que descobrir como abrir um cofre e para isso tem que quebrar o código que outros fizeram. O grande desafio é que e o fechamento está baseado em diferentes princípios de física. Cada time construí o cofre, e coloca o próprio código físico, e os diferentes times tem que quebrar o código de segurança que outros fizeram e apresentar a um jurado composto por físicos do Weizmann.

 

Leia mais: Davidson Institute of Science Education

É esse o seu programa favorito? – perguntamos. “A minha atividade preferida não e um programa, e olhar as pessoas durante as atividades e depois. Disso tiro energia para vários meses”. Convencida de que a ciência não são fatos, “mas uma maneira de viver”, a Dra Bem David insiste na importância de comunicar ciência a todos, “não apenas os que queiram virar cientistas. Toda a cidadania tem que ter conhecimento científico, e conhecer a sua importância”.

 

Companhia que tem a licença de uma tecnologia contra o câncer desenvolvida no Instituto Weizmann de Ciências é vendida por $11,9 bilhões de dólares

Prof. Zelig Eshhar

A imunoterapia altamente personalizada baseia-se nas descobertas do
Prof. Zelig Eshhar

No ano de 1980, o Prof. Zelig Eshhar, membro do Departamento de Imunologia do Instituto Weizmann de Ciências, foi o primeiro a criar a hipótese de que as células T poderiam ser a chave para enfrentar o câncer. Essa ideia inicial foi dramaticamente validada agora com o anúncio de que a Gilead Science Inc (Nasdaq: GILD) pagará $11,9 bilhões de dólares por uma companha baseada na Califórnia, a Kite Pharma, que tem a licença do Instituto Weizmann de Ciências pela tecnologia inovadora do Prof. Eshhar.

Prof Zelig Eshhar, laureado com prêmio Israel Prize e membro do Conselho científico de Kite, explica que com a tecnologia chamada “CAR T – cell therapy” é possível fazer engenharia das células do sistema imunológico do paciente para que estas, ao serem reintroduzidas no paciente, possam reconhecer o câncer e atacá-lo.

Na terapia celular CAR T, primeiro se extraem do paciente um tipo de células do sangue que atacam células estranhas ou anormais, as células T. Depois, se agregam estruturas que amplifica a sua capacidade de se unir à superfície das células cancerosas e ao mesmo tempo promover uma resposta imune ainda mais poderosa.

Desenvolvido em modelos animais por duas décadas, a tecnologia do Prof. Eshhar gerou muito entusiasmo depois de uma série de ensaios clínicos de sucesso em humanos. No ano de 2011, pesquisadores da Universidade de Pennsylvania anunciaram que tinham tido sucesso na utilização do CAR T em um ensaio piloto em pacientes com leucemia linfocítica crônica (CLL). No mês de dezembro de 2012, os pesquisadores reportaram que 9 dos 12 pacientes do ensaio em andamento tinham respondido positivamente a terapia. No mês e março de 2013, pesquisadores de Memorial Sloan.

Kettering Cancer Center de Nova Iorque publicaram os resultados de outro ensaio clínico envolvendo 5 adultos com leucemia linfoblástica aguda (ALL) resistente a quimioterapia. A taxa de sucesso foi 100%. Todos os pacientes entraram em remissão. Mas recentemente, pesquisadores da Universidade de Pennsylvania realizaram um ensaio com pacientes terminais, pessoas para as quais não existiam outras opções de tratamento: 27 dos 29 entraram em remissão.

A Kite Pharma aplicou o enfoque tecnológico do Prof. Eshhar ao desenvolvimento de mais de 10 terapias destinadas a prover de
tratamento personalizado para distintos tipos de câncer. Com foco principalmente em cânceres do sangue agressivos e pacientes que não respondem a outras terapias, a companhia se orgulha tanto pela eficácia das terapias celulares como pela velocidade: entre a extração inicial do sangue do paciente e a reintrodução das células que vão enfrentar o câncer passam apenas duas semanas.

O CEO e Presidente de Kite Pharma, Dr Ariel Belldegrun diz que a tecnologia desenvolvida pelo Prof. Eshhar resolve uma necessidade médica urgente. “CAR T tem o potencial de se converter em um dos agentes anticancerígenos mais poderosos para cânceres hematológicos. Expandindo as operações com esta aquisição, esperamos aumentar nosso potencial de pesquisa e fabricação de terapias para benefício de pacientes do mundo todo”.

Prof. Eshhar tem o apoio das Leona M and Harry B. Helmsley Charitable
Trust e Comisar off Family Trust