Conheça Camila Pinto da Cunha, a 1a recipiente da bolsa The Paulo Pinheiro de Andrade Fellowship
Camila Pinto da Cunha conquistou a primeira bolsa de pós-doutorado exclusiva para brasileiros The Paulo Pinheiro de Andrade Fellowship. A bolsa é concedida a candidatos excepcionalmente qualificados para trabalhar com grupos de pesquisa no Instituto Weizmann de Ciências (WIS) por um período de dois anos.
“O planejamento é iniciar os trabalhos ainda em 2020. Não tenho uma data de viagem definida devido a pandemia da COVID-19, mas o planejamento já está sendo feito, o WIS providenciará transporte do aeroporto até instalações de quarentena, onde ficarei 14 dias. Depois sigo para uma moradia de longo prazo também designada por eles. A contenção da pandemia está caminhando bem por lá, as pesquisas e atividades continuam normalmente, seguindo as medidas de segurança como uso de máscara, lavagem constante das mãos e distanciamento físico.”
No Instituto Weizmann, Camila integrará a equipe do Prof. Yuval Eshed, um dos pioneiros em uma forma inovadora de estudar o desenvolvimento das flores. A pesquisa de pós-doutorado pretende obter uma melhor compreensão da biologia do florescimento, e conta com o grupo que mais sabe do tema no mundo. “É um grupo muito amigável. Durante o processo de escrita do projeto estive em contato com a Grace Lhaineikim, estudante de pós-doc, que me ajudou muito a entender melhor as pesquisas e resultados preliminares obtidos pelo grupo, assim como tirar dúvidas sobre adaptação, cultura e vida em Israel”.
Muito estudo e muito trabalho…
Camila vislumbra o cotidiano na pesquisa em Israel semelhante ao que teve a vida toda no Brasil e que ela define como “muito estudo, muito trabalho!”. Camila é Engenheira Agrônoma e Licenciada em Ciências Agrárias pela Universidade de São Paulo (USP), onde também realizou mestrado. Tem doutorado em Genética e Biologia Molecular pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e já fez pós-doutorado no atual Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR) do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM). Camila também é especialista em jornalismo científico pelo Labjor (Unicamp).
Cursou um ano da graduação no Canadá, na Faculdade de Ciências Agrárias e Ambientais (campus Macdonald) da Universidade McGill e fez estágio no Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), ambas as experiências foram importantes para as futuras pesquisas em cana-de-açúcar, desenvolvidas no doutorado e pós-doutorado.
Ela é também especialista em jornalismo científico pela Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp e foi bolsista mídia ciência pelo Laboratório de Genômica e bioEnergia, escrevendo para jornais universitários e o blog de ciência Planteia. “Difícil definir o porquê fui escolhida para a The Paulo Pinheiro de Andrade Fellowship. Acredito que além de um currículo acadêmico alinhado ao grupo de pesquisa, os trabalhos de comunicação científica foram um diferencial.”- interpreta.
… desde o Ensino Médio
Ainda no ensino médio, Camila realizou o estágio obrigatório de conclusão do curso técnico em química no Instituto Agronômico de Campinas (IAC) sob supervisão do virologista de plantas, Dr. José Alberto Caram de Souza-Dias. “Na época, eu me preparava para o vestibular e queria uma profissão relacionada a alimentos. Minha dúvida estava entre Engenharia Agronômica ou de Alimentos. O estágio foi crucial para a tomada de decisão. Aprendi sobre o cultivo de pimentões muito sensíveis ao inóculo de diferentes estirpes de vírus, além das técnicas de ELISA e PCR treinadas incansavelmente em carregamentos de batata, que chegavam na época da colheita para decisão do agricultor quanto ao destino da produção, semente ou varejo”, relembra. O estágio foi curto, mas ela garante, suficiente para estimular os estudos para o vestibular, decidir a carreira e trilhar os primeiros passos na ciência.
No primeiro ano de graduação, esbarrou com o desafio de cultivar um canteiro de hortaliças. “Em uma das disciplinas, recebi sementes de alface, pequenas e delicadas, que não poderiam ser semeadas diretamente no solo. Busquei ajuda no Departamento de Produção Vegetal, onde conheci o hoje Prof. Dr. Fernando Cesar Sala da Universidade Federal de São Carlos, e o professor emérito Dr. Cyro Paulino da Costa. Eles me ajudaram e minhas visitas frequentes à estufa para checar o crescimento das mudas e minha curiosidade pela pesquisa de Sala e Costa, me direcionaram mais tarde para área de minha especialização, genética e melhoramento vegetal”.
E agora no Weizmann
No Instituto Weizmann, integrará a equipe do Prof. Yuval Eshed, um dos pioneiros no estudo de como o tecido que dá origem a todos os órgãos de uma planta (meristema) gera flores. “O projeto demanda o desenvolvimento de habilidades teóricas e práticas. Vou usar novas técnicas e novos instrumentos e eles usam o tomate como planta modelo. Migrar de cana-de-açúcar para o tomate e ir para um mundo diferente! A oportunidade de pesquisa no renomado Instituto Weizmann é uma oportunidade única para a minha carreira”.
Ela vai estudar os fatores internos da planta que definem quando um meristema, com suas células inicialmente indiferenciadas, vira flor. “A influência de um fator depende de como ele é percebido internamente. Esses estímulos são organizados em vias, que lembram uma lista de tarefas com o passo a passo para execução de cada uma delas. A ideia do projeto é definir passos faltantes dessas listas de tarefas (dependentes ou não do hormônio do florescimento, o florígeno) e entender a relação entre listas de tarefas diferentes (como dos hormônios clássicos)”.
Entender como a transição floral é regulada é fundamental para garantir a produção agrícola e conservar espécies nativas, principalmente em tempos de crise climática. “Perguntas de fisiologia do desenvolvimento básico ajudam a entender o porquê determinada arquitetura de planta produz mais frutos; quais os estímulos definem se o meristema deve se manter como está ou se diferenciar em flor, folha ou ramo ou mesmo morrer. E como as mudanças climáticas afetam o destino das plantas.”
Perguntas básicas que, uma vez respondidas, podem ter um impacto importante na produção agrícola.