Em um encontro ao vivo com os Amigos do Weizmann da América Latina, o Vice-Presidente do Instituto Weizmann de Ciências, Prof. Roee Ozeri, fez importantes reflexões e trouxe uma atualização sobre como os cientistas avançaram em busca de soluções urgentes para a pandemia e como o Instituto rapidamente se tornou um epicentro de esforços.
Prof. Ozeri também apresentou sua visão para as prioridades de longo prazo do Instituto. São tempos extraordinários, mas os cientistas do Weizmann perceberam de forma imediata onde a sua expertise podia fazer diferença, e já têm conseguido grandes avanços em alguns dos 66 projetos direcionados para o novo Coronavírus que se desenvolvem no campus. Um deles, com uma droga contra a leucemia, estaria próximo a iniciar ensaios clínicos.
Os pesquisadores das diversas áreas colaboram como nunca antes em projetos internacionais, alguns deles de ciência aberta, o que significa sem patentes, sem royalties, dados abertos para que as colaboração sejam mais rápidas e eficientes.
E cientes ainda de que a informação é essencial nesse momento, o Weizmann também investiu recursos na área de educação.
Roee destacou a rapidez em que cada membro do Instituto Weizmann de Ciências avaliou como podia aproveitar sua expertise, e como pesquisadores que não são virologistas iniciaram ações em várias áreas críticas. Hoje há 66 projetos de pesquisas colaborativas com o objetivo de gerar em meses o que, em outras circunstâncias, levaria anos.
O Weizmann está trabalhando para fazer testes mais eficientes, para desenvolver medicamentos e vacinas, e para aproveitar em benefício da humanidade todo o conhecimento em inteligência artificial e ferramentas computacionais necessários para trabalhar com Big Data. Muitos projetos já deram frutos para enfrentar a pandemia do novo Coronavirus. Com tempo limitado para a exposição, o Prof. Roee Ozeri destacou seis projetos nascidos do enfoque interdisciplinar, que norteia a pesquisa no Instituto.
Um exemplo é o de cientistas que nunca enfrentaram vírus nas suas pesquisas prévias, mas aproveitaram a sua expertise revolucionária de genética de células únicas para criar uma ferramenta mais eficiente, barata, rápida e de maior acurácia para aumentar 10 vezes a capacidade de testagem do novo coronavirus. E um especialista em estrutura das proteínas que no mês de fevereiro recebeu da China uma molécula do vírus e, desde então, em um trabalho de colaboração internacional de ciência aberta sem precedentes, está criando novas moléculas para enfrentar a infecção. Estas novas moléculas são fabricadas, selecionadas, testadas e melhoradas para iniciar um novo ciclo. “Estamos na segunda geração, provavelmente haverá uma terceira e uma quarta, mas tenho confiança que em alguns meses começaremos as provas em animais.”
Uma outra equipe está reavaliando, para Covid 19, moléculas que já existem para enfrentar a doença. Este enfoque tem a grande vantagem que, ao serem drogas conhecidas e certificadas, não precisam passar de novo por testes de segurança em animais. “Uma molécula utilizada para leucemia teve 100% de sucesso em deter a reprodução do vírus em células de cultura, e imediatamente será iniciado o ensaio clínico em humanos”, anunciou.
O Prof. Roee comentou também o trabalho em inteligência artificial na área da nutrição que foi redirecionado para criar questionários sobre sintomas. “Já foi implementado em vários países e esta semana tinham disponíveis os resultados de dois milhões e meio de pessoas.” Já no início, este enfoque permitiu identificar precocemente surtos em Jerusalém e cidades árabes do norte de Israel e assim enviar rapidamente a recomendação de testagem.
“Sabemos que a informação empodera as pessoas”, disse o professor Roee ao falar do projeto de informação científica de alta qualidade que está sendo divulgado n
“Stuck at home” website em hebraico, árabe, ingles e espanhol.
Respondendo a perguntas dos participantes expôs que “são tempos extraordinários, estamos frente a uma doença que provavelmente tenha um 1% de fatalidade, são grandes números”. Comentou dos Think Tanks que estão pensando estratégias de saída do lockdown, um deles liderado por pesquisadores do Instituto Weizmann e acrescentou a informação de que em Israel se calcula que poderão aliviar as medidas de isolamento só quando não se superam os 100 novos casos diários. É quando o número de casos poderá estar dentro das possibilidades da capacidade do sistema de saúde. Disse também que “tudo indica que nas pessoas que foram infectadas, a proteção imunológica seria suficiente por 2-3 anos, com um máximo provável de 10 anos.”
O Professor Roee falou com muita clareza do que se sabe, mas também do que ainda não se sabe. E indicou que mesmo com um grande vácuo no conhecimento do comportamento do vírus, espera se que as epidemias pelo novo coronavírus sejam cíclicas “Temos que usar o tempo com inteligência, para nos prepararmos para a segunda onda”.
Agradeceu aos amigos do mundo que colaboraram financeiramente com o Coronavirus Response Fund, e compartilhou a ansiedade de todos de ter resultados urgentes. “Mas a ciência superficial não serve. É preciso se aprofundar na natureza para respostas efetivas”.
“Temos que ter isso presente toda vez que os governos discutam sobre a ciência e a educação cientifica”, disse e reflexionou também sobre as diferentes direções que tomam os políticos e os científicos. “Os políticos têm tendência a separar, polarizar, extremar a concorrência entre países, e a pandemia segregou o mundo ainda mais. Mas no mundo científico, foi o contrário. Os cientistas estão colaborando como nunca, porque sabemos que se trabalhamos juntos, as chances de sucesso são maiores”.