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Michal Shaked

 

Na sua pesquisa, Michal foca na regulação do um grupo de genes envolvidos no controle de tamanho de órgãos e homeostasis de tecidos, chamada via de sinalização Hippo. O nome deriva do fato de que um dos componentes chave da sinalização aparece na forma mutada, o que resulta no crescimento exagerado, gerando-se órgãos anormalmente grandes, “tamanho hipopótamo”.

Estudos recentes indicam que anomalias na via de sinalização Hippo têm um papel importante na formação de tumores, na resistência a drogas anticancerígenas e na metástase. Usando várias abordagens, incluindo biologia molecular, modelos matemáticos e microscopia avançada, Michal procura compreender a desregulação da via de Hippo em células tumorais do pulmão.

Com um MBA em gestão estratégica pela Universidade de Tel Aviv e Mestrado em Biologia Molecular pelo Instituto Weizmann, Michal também realizou pesquisas no laboratório do Prof. Galit Lahav na Escola de Medicina de Harvard. Ela recentemente ganhou o prêmio “melhor poster” em uma conferência EMBO (European Molecular Biology Organization) em Roma, e recebeu o prêmio Azrieli Systems de Inovação para Estudantes de Biologia.

Quando ela não está no laboratório, dá aulas para estudantes do ensino médio no Instituto Davidson de educação científica e é voluntária na Fundação israelense para crianças deficientes (ILAN), gosta de arte e de ouvir música.

 

Rafael Stern

Graduado em geografia pela Universidade Federal Fluminense, Rafael Stern fez pós-graduação em Israel no Instituto Arava de Estudos do Ambiente . Fez o Mestrado no Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas onde estudou a caracterização física e química das partículas atmosféricas emitidas pelo fogo na selva amazônica.

No Instituto Weizmann de Ciências, sua pesquisa utiliza ferramentas avançadas para medir a fotossíntese. O mentor na investigação é o Prof. Dan Yakir, do Departamento de Ciências Planetárias e da Terra do Instituto Weizmann.

Quando não está no laboratório, ou no “caminhão”, Rafael lê poesia, toca gaita ou faz trilhas na natureza.

A cientista carioca Camila Freze Baez conquista a bolsa de pós-doutorado “The Mora Miriam Rozen Gerber Fellowship”

A cientista carioca Camila Freze Baez  conquista a bolsa de pós-doutorado “The Mora Miriam Rozen Gerber Fellowship”

Camila Freze Baez, carioca, 29 anos, é a nova bolsista de pós-doutorado “The Morá Miriam Rozen Gerber Fellowship”, para continuar seus estudos no Instituto Weizmann de Ciências, Israel. A bolsa integral, destinada exclusivamente a brasileiros, tinha como requisito essencial a excelência acadêmica.

Graduada em Biomedicina na  Universidade Federal Fluminense, UFF, Niterói, com Mestrado  em Microbiologia e Parasitologia Aplicadas na mesma universidade e Doutorado em Medicina (Doenças Infecciosas e Parasitárias) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, a pesquisa da Camila no Brasil procurava ajudar a melhorar o entendimento científico sobre o papel dos vírus em cânceres de pele.

No Instituto Weizmann, vai ser parte de um grupo pioneiro na identificação de um novo tipo de comunicação das células tumorais com as demais: a passagem de RNA – uma descoberta que abriu uma Infinidade de possibilidades de pesquisa. O laboratório de “Tráfego de RNAm e de proteínas” (“mRNA and protein trafficking” ) é liderado pelo prof. Jeffrey Gerst do Departamento de Genética Molecular. “Nossa pesquisa pretende investigar se o RNA transferido de uma célula para outra influenciaria as funções da célula que o recebeu e, se no caso de transferência de RNAs envolvidos com o desenvolvimento tumoral, haveria a transformação de células saudáveis em células tumorais. Essa pesquisa é inovadora em muitos aspectos e poderá, por exemplo, indicar novos caminhos terapêuticos para o câncer.”

 

A cientista, que começou como muitos sendo uma criança curiosa e investigativa, que ganhava microscópios de brinquedo e kits de química como presentes enquanto crescia, destaca o papel fundamental de excelentes professores na sua trajetória: “A eles sou profundamente grata pela oportunidade, confiança e encorajamento para sempre ir mais longe e mais alto. É claro que nem sempre é fácil; a ciência no Brasil enfrenta dificuldades já há alguns anos com o congelamento de bolsas e corte de verbas. No entanto, quando se trabalha em algo que se ama, com pessoas que te ajudam a superar as dificuldades e com determinação, as dificuldades são transformadas em desafios a serem superados e aumentam a vontade de vencer.”

Em alguns meses Camila faz as malas para estudar em uma instituição de ponta científica e tecnológica como o Instituto Weizmann de Ciências. “É a concretização de um sonho. Espero, um dia, ser capaz de influenciar positivamente meus futuros alunos a perseguirem e alcançarem seus sonhos.” Ainda sem palavras para descrever o quão animada está para conhecer Israel junto ao seu marido, que ira acompanha-la. “Tenho certeza que ficarei impressionada, tanto pela pesquisa científica de ponta, quanto pelos incríveis lugares históricos, contrastados com os modernos, que terei a oportunidade de conhecer.”

 

Parabéns aos Bolsistas Escola de Verão 2018

Parabéns aos Bolsistas Escola de Verão 2018
Carolina Eva Padilha, Luiza Elias Coutinho, Maria Vitória Valoto e Gean de Oliveira da Silva

Carolina Eva Padilha, São Paulo – SP

Tem 18 anos, estudou no Colégio Dante Alighieri onde em 2014 começou um projeto de iniciação cientifica. “Comecei a fazer ciência por uma ansiedade de aprender mais. Eu queria entender como e por que as coisas aconteciam. Iniciei meu projeto de pesquisa almejando entender como as doenças afetavam as células, pesquisando sobre alterações celulares encontrei meu objeto de estudo: a mitocôndria. Fiquei fascinada por sua importância e como disfunções nessas organelas podem resultar em diversas doenças.”

Durante o ensino médio, trabalhando em um laboratório no Instituto de Biociências da USP, estudou o processo neurodegenerativo na doença de Parkinson e como a prática de atividade física em um modelo de ratos afeta a dispersão mitocondrial alterada no curso da doença. “A experiência dentro do laboratório, onde vivi decepções quando os experimentos falhavam e alegria quando eles finalmente davam certo, fez eu me apaixonar pela ciência. Tentando compreender meus resultados descobri uma nova forma de aprender. No Instituto Weizmann espero conhecer novas perspectivas para fazer ciência e entrar em contato com outras pessoas apaixonadas por ciência e aprender com elas”.

Luiza Elias Coutinho, Belo Horizonte – MG

Tem 18 anos e cursa biologia na Universidade Federal de Minas Gerais.

“Desde bem pequena eu queria ser cientista, porque sou muito curiosa e criativa. Com minhas experiências em laboratórios, percebi que ser cientista também exige paciência, persistência e paixão pelo trabalho. Eu aprendi muito ao longo dos últimos anos, mas espero que isso seja só o começo de uma caminhada de descobertas.”

Em 2015, ganhou uma bolsa de Iniciação Científica Júnior no Núcleo de Neurociências da UFMG e participou de um projeto com foco na avaliação de mudanças no comportamento motor de larvas de zebra fish. Em 2016, trabalhou no Laboratório de Pesquisa em Virologia Animal da Escola de Veterinária da UFMG e seu projeto teve por finalidade a detecção e identificação do vírus da Língua Azul (BTV) em insetos (Culicoides) coletados no estado de Minas Gerais.  Em 2017, foi selecionada para um curso de três semanas na Universidade de Stanford sobre Biotecnologia e participou de experimentos com nano-biomateriais.

“Minhas expectativas para a Escola de Verão do Weizmann são as melhores possíveis. Estou muito animada para aprender mais e conhecer pessoas que também amam o que fazem pela ciência!”

Gean de Oliveira da Silva, Araponga – PR

Tem 17 anos e, desde criança, sempre admirou o trabalho de cientistas. Sendo estudante, sonhou em fazer algo que pudesse contribuir para o meio ambiente e a sociedade. No começo do ensino médio, perante um debate durante uma aula de biologia, formulou um projeto que pudesse impactar em uma das áreas favoritas dele, o meio ambiente. “Mesmo com dificuldades e enfrentando a falta de recursos, me empenhei para aprender mais sobre a metodologia científica e viabilizar o sonho de ter meu próprio projeto.”

Desde então, está desenvolvendo e aprimorando um material biodegradável, que leva em sua composição a fibra de bananeira, que é uma matéria-prima tratada como resíduo das plantações de banana. O intuito é aplicar o biopolímero formulado como uma alternativa sustentável em relação ao uso de plásticos convencionais, que causam transtornos para o meio ambiente.

“Enxergo a ciência como agente catalisador de transformações na sociedade e acredito veementemente que fazer ciência é algo que nos agrega valor de todas as formas, pois além de podermos ajudar na busca de soluções para problemas reais em nossa comunidade, estamos aptos a ganhar muita aprendizagem, fazer inúmeros novos amigos, conhecer pessoas incríveis, tornar sonhos realidade, crescer como pessoa e contribuir para a consolidação de um mundo cada vez melhor”.

Maria Vitória Valoto, Londrina – PR

Tem 17 anos, começou a fazer projetos de pesquisa com 12 anos e participou da primeira feira de ciências aos 14.

Seu projeto de ciências num estágio de pesquisa no laboratório de Ecologia Microbiana da Universidade Estadual de Londrina (UEL) foi a procura de uma alternativa para combate de um fungo oportunista que causa infecções vaginais, Cândida spp., contra o qual boa parte dos antifúngicos utilizados já não são mais eficientes. O projeto teve como objetivo o desenvolvimento de um tratamento alternativo, viável, eficiente, de fonte natural e de baixo custo. Testou diversas bactérias provenientes de fontes naturais como rios, árvores e frutas achando um composto proveniente de um pomar de laranjas com uma atividade 10 vezes mais efetiva do que os tratamentos convencionais.

Atualmente orienta projetos científicos e ajuda em aulas de laboratório no colégio onde estudou (Interativa). “Desde a minha primeira participação em uma feira de ciências comecei a me desafiar, a estabelecer metas e a sonhar com lugares em que eu poderia chegar. Um deles foi o programa de verão do Instituto Weizmann. A ciência me mostrou um mundo que eu nem sabia que existia, e quanto mais eu o conheço, mais eu quero viver nele.”

Vacina universal contra todas as cepas de Influenza inicia fase III de pesquisa

Diferentemente de outras doenças infeciosas, a influenza requer uma vacina nova todo ano.

A vacina universal, que possa ser utilizada uma vez na vida, é o sonho de muitos. Depois de pesquisas clínicas de sucesso envolvendo 700 participantes, a vacina universal desenvolvida no Instituto Weizmann entra na Fase III, última antes da aprovação pela FDA.

A vacina potencialmente capaz de proteger por muitos anos e de todas as cepas foi desenvolvida pela Profa. Ruth Arnon, do Departamento de Imunologia do Instituto Weizmann de Ciências e ex-presidente da Academia de Ciências de Israel. A Profa. Arnon é pioneira em uma forma de terapia que utiliza peptídeos sintéticos para estimular resposta imune. Nos camundongos vacinados com a vacina sintética, o time da Profa. Arnon conseguiu 100% de proteção contra diversas cepas de vírus da influenza por um período que, em humanos, corresponde a várias décadas. O mesmo aconteceu com os camundongos humanizados, na pesquisa conjunta com o Prof. Yair Reisner, também do Instituto Weizmann de Ciências.

Patenteada pela Profa. Arnon e sua ex estudante e pesquisadora associada, Dra. Tamar Bem Yedidia, a tecnologia foi licenciada a empresa BiondVax que finalizou o desenvolvimento da vacina.   A Profa. Arnon é chefe do Conselho Científico Assessor do BiondVax.

A Profa. Arnon foi co-desenvolvedora do Copaxone, droga contra a esclerose múltipla que responde a um terço do mercado.

Fonte:  WEIZMANN MAGAZINE VOL. 13

 

Sistemas Imunológicos Bacterianos Assumem o Palco

Um estudo sistemático que descobriu diversos mecanismos de defesa e imunização novos e incomuns de bactérias poderá levar a novas ferramentas biotecnológicas.

Até uma década atrás, os cientistas não tinham ideia de que as bactérias possuem sistemas imunológicos complexos – isto é, que estas eram capazes de manter o ritmo evolutivo em relação aos vírus que as infectam, os chamados fagos. Esse cenário mudou com a descoberta daquele que é atualmente o mais conhecido mecanismo imunológico das bactérias: CRISPR. Os cientistas chegaram à conclusão de que o CRISPR é um editor natural de genes, o que revolucionou o mundo da pesquisa biológica em milhares de laboratórios em todo o mundo. Os pesquisadores agora compreendem que a maioria dos micro-organismos tem sistemas imunológicos sofisticados, dos quais o CRISPR é um mero elemento; entretanto ainda não se chegou a um método eficaz para identificar esses sistemas. Em um estudo sistemático de grande porte, o Prof. Rotem Sorek e sua equipe no Instituto Weizmann de Ciências agora revelaram a existência de 10 mecanismos de defesa e imunidade anteriormente desconhecidos nas bactérias. “O sistema que descobrimos não é semelhante a nada que já havíamos visto antes” – disse Sorek. “Entre eles, porém, acreditamos que haja um ou dois que possam ter o potencial de aumentar as funcionalidades de edição de genes, e outros capazes de indicar as origens do sistema imunológico humano". Os resultados do estudo foram publicados recentemente na revista Science.

As bactérias não dependem somente do CRISPR na guerra contra os fagos – explicou Sorek, membro do Departamento de Genética Molecular do Instituto. Na verdade, diversos fagos têm proteínas “anti-CRISPR” que cancelam a ação do CRISPR, o que sugere que outros sistemas assumem a função. Sorek e sua equipe começaram sua pesquisa sobre esses sistemas, criando um programa de computador que faz uma varredura em todos os genomas de bactérias que já foram sequenciados – cerca de 50.000 genomas no total. Em vez de procurar sequências com características predefinidas, os algoritmos que a equipe gerou busca “assinaturas estatísticas” de genes envolvidos na defesa – por exemplo, sua localização nas “ilhas de defesa” em que genes relacionados à defesa se posicionam lado a lado. Então, como os genes do sistema imunológico raramente atuam isoladamente – mesmo nas bactérias – os pesquisadores desenvolveram métodos analíticos computadorizados complexos para poderem compreender os genes que unem suas forças e trabalham em conjunto para compor o sistema de defesa.

Uma vez triados os possíveis genes de defesa entre milhões, isolando algumas centenas, os pesquisadores precisavam testar os mecanismos candidatos que haviam identificado. Em vez de tentar isolar as sequências genéticas de centenas de bactérias diferentes, a equipe recorreu à biologia sintética, organizando os genes em sequências lógicas. Eles enviaram as sequências de códigos genéticos – cerca de 400.000 bases ou “letras” de códigos genéticos no total – a um laboratório comercial, onde dezenas de sistemas multigenes diferentes foram sintetizados para os ensaios. Esses sistemas sintéticos foram inseridos em bactérias de laboratório cujos sistemas imunológicos naturais haviam sido desativados. As bactérias foram então expostas a fagos e outros elementos infecciosos para verificar se o sistema de defesa transplantado seria viável. Entre os diversos sistemas examinados pelos pesquisadores, dez protegeram fortemente as bactérias do laboratório contra as infecções, identificando-os assim como novos sistemas imunológicos de defesa.

Sorek disse que, entre as diversas etapas da análise computadorizada e do experimento, o estudo exigiu o esforço intensivo de seis pessoas trabalhando no laboratório por dois anos. O estudo foi conduzido pelas Dras. Shany Doron e Sarah Melamed, com participação intensiva de Gal Ofir, da Drª Azita Leavitt, da Drª Anna Lopatina e do Dr. Gil Amitai. A equipe também mantinha reuniões quinzenais – o “conselho de defesa” -, para discutir as diversas ramificações da pesquisa e os mecanismos de defesa que haviam descoberto.

Os pesquisadores ainda não sabem como os novos sistemas imunológicos das bactérias funcionam, e alguns deles, segundo o Prof. Sorek, “parecem manter funções surpreendentes, que estamos agora começando a investigar". Um desses sistemas contém domínios do Receptor de Interleucina tipo Toll (Toll-Interleukin Receptor – TIR). Já era sabido que os domínios de TIR teriam uma função nos sistemas imunológicos – mas até então, não se sabia que atuavam também em micro-organismos. Esses domínios são parte integrante do sistema imunológico humano e até mesmo das plantas, mas nunca haviam sido vistos em funções de defesa antivírus de bactérias anteriormente. “Nossas constatações comprovam que algumas das partes mais importantes do nosso próprio sistema imunológico têm raízes evolutivas profundas em mecanismos imunológicos de bactérias” – disse Sorek.

Outros genes parecem ter sido “emprestados” de sistemas bacteriológicos não defensivos. Um deles, por exemplo, é conhecido nos flagelos que as bactérias utilizam para se deslocar em meio líquido. Esses genes abastecem os flagelos com energia, permitindo que absorvam prótons; um dos sistemas de defesa descobertos no laboratório de Sorek utiliza esses genes como proteção contra os fagos. Outro gene descoberto, conhecido como condensin, costuma proteger o DNA durante a divisão celular, e os pesquisadores descobriram um sistema de defesa que utiliza componentes do mecanismo dos condensins para proteger as bactérias contra invasões de plasmídeos – minúsculos anéis de DNA que atuam como parasitas nas células bacterianas.

“O fato de termos conseguido encontrar 10 novos sistemas de defesa bacteriológica implica que há mais deles que ainda não conhecemos" – disse Sorek. “Meu laboratório continua em busca de novos sistemas. Além disto, estamos começando a nos concentrar em vários mecanismos mais promissores, a fim de compreendermos como funcionam”.

Sorek disse que as novas descobertas são empolgantes, devido às novas oportunidades que abrem em relação à evolução dos sistemas imunológicos e à eterna batalha entre os vírus e os organismos que eles infectam. Entretanto, ele também acredita que alguns deles podem se tornar poderosas ferramentas para a pesquisa biológica: “Todo sistema imunológico, por definição, tem o foco nos elementos invasores, de forma bastante específica, porém flexível, e podemos utilizar esse foco para fins biotecnológicos – como fizemos com o CRISPR e com as enzimas restritivas antes dele. Qualquer um dos novos sistemas que descobrimos pode se tornar a próxima ferramenta de edição de genes – ou talvez até a base para ferramentas moleculares ainda mais úteis” – disse Sorek.

A pesquisa do Prof. Rotem Sorek tem o apoio da Fundação da Família de David e Fela Shapell; do Fundo INCPM para Estudos Pré-clínicos; do Instituto de Medicina Molecular Y. Leon Benoziyo; do Centro de Proteômica Estrutural Dana e Yossie Hollander; da Fundação Abisch Frenkel de Fomento às Ciências Naturais; do Consórcio Beneficente Leona M. e Harry B. Helmsey; de Martin Kushner Schnur; e do Conselho Europeu de Pesquisa.

Mapeamento do Relevo Social

  Pesquisadores identificam “células de localização social” no cérebro que reagem à localização de outras pessoas no ambiente espacial

Tanto faz se estamos jogando um esporte em equipe ou somente passeando com nossa família pelo parque; estamos constantemente cientes do posicionamento das pessoas ao nosso redor – e para onde cada uma delas está se dirigindo. Nas últimas décadas, os cientistas têm destacado neurônios conhecidos como “células de localização” em nosso cérebro, que codificam nossa própria localização no ambiente; a forma como nosso cérebro representa o posicionamento de outras pessoas, entretanto, sempre foi um mistério. Novas pesquisas do Instituto Weizmann de Ciências com morcegos, publicadas hoje na revista Science, revelam uma subpopulação de neurônios que codificam a localização específica de outros morcegos voando nas redondezas.

“Os morcegos, assim como os seres humanos, são animais sociais; eles são exímios navegadores e têm total consciência do seu ambiente espacial" – disse o Prof. Nachum Ulanovsky do Departamento de Neurobiologia do Instituto, líder do estudo. A pesquisa de Ulanovsky com morcegos frugívoros no Egito concentra-se nas células de localização, encontradas na região do cérebro conhecida como hipocampo. Essas células, que ajudam seres humanos e outros mamíferos a navegar seu ambiente através da formação de mapas cognitivos internos, renderam aos seus descobridores um Prêmio Nobel em 2014. Uma pesquisa mais recente sugere que o hipocampo também pode ter um papel na interação social. Assim, Ulanovsky e sua equipe, incluindo o Dr. David Omer, a Drª Liora Las e Shir Maimon, levantou a questão sobre como essas duas funções, de localização e social, podem formar uma interseção nessa parte do cérebro. Ulanovsky e sua equipe desenvolveram uma situação experimental, para fins de aprendizagem, em que dois dos morcegos do seu exclusivo “laboratório de morcegos” – um “professor” e um “aluno” – formaram um par. O aluno primeiramente observou como o professor voava aleatoriamente em direção às “barracas de frutas”, posicionadas no laboratório, e de volta ao poleiro. Passados 13 segundos, em média, o aluno passava a rastrear a rota do professor até a comida.

Para descobrir o que acontecia no cérebro dos morcegos, cada animal era equipado com um dispositivo de gravação sem fio em miniatura, chamado de gravador neural, e minúsculos eletrodos que permitiam aos pesquisadores registrar a atividade de cerca de 400 células cerebrais na região frontal do hipocampo. Esses minúsculos eletrodos e o dispositivo de gravação, que foram desenvolvidos por Ulanovsky e sua equipe em anos de estudos, não interferiam nas atividades do morcego. “A parte mais desafiadora dos experimentos foi desenvolver meios de evitar que dois morcegos voassem ao mesmo tempo, pois era preciso que um ficasse pousado para podermos diferenciar as células próprias das células de outros locais” – disse Ulanovsky. “O segredo era identificar os machos alfa do grupo e torná-los os professores – o que faria com que os alunos respeitassem os professores e não alçassem voo ao mesmo tempo que eles.”

Os resultados do experimento suportam a ideia de que nosso cérebro gera um mapa cognitivo, não apenas para nos localizar no ambiente, mas também para abranger um mapeamento social. Quando o morcego aluno voava para o laboratório por conta própria, suas células de localização permaneciam naturalmente ativas. Entretanto, quando ficavam pousados e observavam os morcegos professores, cerca de 18% das células de seu hipocampo representavam o posicionamento do outro morcego – ou seja, tornavam-se ativas quando o professor voava em determinado trecho do espaço. Análises adicionais sugeriam que cerca de metade dessas células atuavam de forma alternada, como células de localização normais que localizavam o outro morcego, enquanto as demais células reagiam apenas à localização do outro morcego.

Sensores de movimento que rastreavam o movimento da cabeça dos morcegos alunos comprovaram que esses movimentos não afetavam a atividade das células em relação à localização social. Outro conjunto de experimentos tratou da questão dos traços realmente sociais da subpopulação de células que os pesquisadores haviam identificado. Os cientistas mantinham os morcegos alunos observando objetos em movimento – bolas ou dados — seguindo pelo mesmo trajeto que os professores haviam seguido nos experimentos anteriores, com ou sem recompensas no final do percurso. Os objetos também foram representados no hipocampo, entretanto houve uma clara distinção entre estes últimos e as células que disparavam impulsos elétricos em reação a outros morcegos. Uma análise da anatomia funcional das células demonstrou uma separação espacial entre as áreas do hipocampo que mapeiam objetos ou outros animais.

Em conjunto com um estudo semelhante conduzido com camundongos por cientistas do RIKEN, também publicado hoje na revista Science, essa pesquisa abre uma porta para algumas novas questões relativas às células de localização social. Por exemplo: Como essas células atuam em um “contexto social” com diversos participantes? Sua atividade depende da relação entre outros animais ou do gênero desses animais? Ulanovsky: “Essas descobertas sugerem que a parte do hipocampo que lida com a “localização” não está envolvida somente com a navegação pelo relevo físico. Ela exerce um papel importante no relevo social também.”

A pesquisa do Prof. Nachum Ulanovsky tem o apoio do Prêmio Andre Deloro; do Conselho Europeu de Pesquisa; e de Rita e Steven Harowitz.

O “Cérebro em um Chip” revela como o cérebro se dobra


Física e biologia se reúnem em um novo modelo de desenvolvimento cerebral

Nascer com uma “tabula rasa” – tábua raspada em latim, ou uma página em branco – no caso do cérebro, é uma espécie de maldição. Nossos cérebros já são enrugados como nozes no momento em que nascemos. Bebês que nascem sem essas rugas – uma síndrome conhecida como lisencefalia – sofrem sérias deficiências de desenvolvimento e sua expectativa de vida é notoriamente reduzida. O gene que causa essa síndrome ajudou recentemente os pesquisadores do Instituto Weizmann de Ciências a sondar as forças físicas que dão origem às rugas no cérebro. As constatações dos pesquisadores, publicadas hoje na revista Nature Physics, descrevem um método que eles desenvolveram para criar minúsculos “cérebros em chips”, compostos de células humanas que permitem rastrear os mecanismos físicos e biológicos por trás do processo de enrugamento.

Os minúsculos cérebros desenvolvidos no laboratório de células-tronco embrionárias – os chamados organoides – foram descobertos na década passada pelos professores Yoshiki Sasai no Japão e Juergen Knoblich na Áustria. A Profª Orly Reiner do Departamento de Genética Molecular do Instituto disse que seu laboratório, juntamente com diversos outros, adotaram a ideia de desenvolver organoides. Mas o Dr. Eyal Karzbrun, em seu laboratório, precisou acalmar um pouco o seu entusiasmo: As dimensões dos organoides obtidos não tinham nada de uniformes; sem vasos sanguíneos, seu interior não mantinha um fornecimento estável de nutrientes e começaram a morrer; a espessura do tecido também não permitia boas imagens ópticas nem uma boa análise  por microscópio.

Então, Karzbrun desenvolveu uma nova abordagem para crescer estes organoides, segundo a qual, o grupo seria capaz de acompanhar o processo de crescimento em tempo real: Ele limitou o crescimento no eixo vertical. Isto gerou um organoide em formato de pão “pita” – arredondado e achatado com um espaço reduzido ao centro. Esse formato permitiu ao grupo gerar imagens do fino tecido à medida que se desenvolvia e também o fornecimento de nutrientes a todas as células. E na segunda semana de crescimento e desenvolvimento dos minúsculos “cérebros”, as rugas começaram a surgir e logo em seguida, a se aprofundar. Karzbrun: “Foi a primeira vez que dobras foram observadas nos organoides, aparentemente devido à arquitetura do nosso sistema.”

Karzbrun é físico por formação, e naturalmente recorreu aos modelos físicos para avaliar o comportamento de materiais elásticos para compreender a formação das rugas. As dobras ou rugas na superfície resultam da instabilidade mecânica – forças de compressão aplicadas a determinadas regiões do material. Desta forma, por exemplo, se houver uma expansão desigual em uma parte do material, outras partes podem ser forçadas a se dobrar, de forma a acomodar a pressão. Nos organoides, os cientistas encontraram instabilidade mecânica desse tipo em dois locais: O citoesqueleto – esqueleto interno – das células no centro do organoide contraído; e no núcleo das células próximas à superfície dilatada. Raciocinando de outra forma, a parte externa do pão “pita” cresceu mais rapidamente do que o seu interior.

Embora essa descoberta tenha sido impressionante, Reiner não se convenceu de que as rugas nos organoides estavam de fato moldando as dobras no cérebro em desenvolvimento. O grupo então gerou novos organoides, desta vez contendo as mesmas mutações que os bebês com lisencefalia apresentam. Reiner havia identificado esse gene – o LIS1 – em 1993, e já investigou sua função no cérebro em desenvolvimento, assim como na síndrome em questão, que afeta um em cada 30.000 nascimentos. Entre outras coisas, o gene está envolvido na migração de células nervosas para o cérebro durante o desenvolvimento embrionário, e também regula o citoesqueleto e os mecanismos moleculares nas células.

Os organoides com a mutação do gene cresceram na mesma proporção que os demais, porém, desenvolveram poucas dobras, e mesmo essas tinham um formato bastante diferente das rugas normais. Trabalhando com a premissa de que as diferenças entre as propriedades físicas das células eram as responsáveis por essas variações, o grupo investigou as células dos organoides com microscópios de força atômica, com o auxílio do Dr. Sidney Cohen do Departamento de Apoio à Pesquisa Química. Conforme as medições de elasticidade, as células normais eram duas vezes mais rígidas do que as células mutadas, que eram basicamente moles. Reiner: “Descobrimos uma diferença significativa nas propriedades físicas das células nos dois organoides, mas observamos uma diferença também em suas propriedades biológicas. Por exemplo, os núcleos dos centros dos organoides mutantes se deslocavam mais lentamente, e percebemos diferenças significativas na expressão dos genes.”

Mesmo antes da data de publicação da matéria, a comunidade científica já demonstrava grande interesse nessa nova abordagem aos organoides em crescimento. “Não se trata exatamente de um cérebro, mas é um modelo bastante razoável de desenvolvimento cerebral,” – disse Reiner. “Agora temos uma compreensão bem melhor do que gera as rugas no cérebro ou, no caso daqueles que sofrem a mutação, o que causa a lisencefalia.” Os pesquisadores planejam continuar desenvolvendo sua abordagem, que acreditam poder levar a novas leituras em relação a outros distúrbios associados ao desenvolvimento cerebral, inclusive a microcefalia, a epilepsia e a esquizofrenia.

Também participaram dessa pesquisa o Prof. Yaqub Hanna, que auxiliou no desenvolvimento das células-tronco embrionárias, e a estudante de pesquisa Aditya Kshirsagar, da equipe de Reiner.

 

A pesquisa da Profª. Orly Reiner tem o apoio do Instituto de Pesquisa de Células-Tronco Helen & Martin Kimmel; do Centro de Doenças Neurológicas Nella & Leon Benoziyo; do Instituto de Genética Médica da Família Kekst; do Fundo de Pesquisa de Células-Tronco Drª Beth Rom-Rymer; da Fundação Dears; do Sr. e Sra. Jack Lowenthal; do espólio de David Georges Eskinazi; e do espólio de Jacqueline Coche. A Profª. Reiner ocupa a cadeira de Bernstein-Mason de Neuroquímica.

O Instituto de Ciência Weizmann, unidade de Rehovot, Israel, é uma das principais instituições de pesquisas multidisciplinares do mundo. Conhecido pela sua exploração abrangente das ciências naturais e exatas, o Instituto conta com o apoio de cientistas, estudantes, técnicos e pessoal de apoio. As iniciativas do Instituto na área de pesquisas incluem a busca por novas formas de combate a doenças e à fome, a análise de importantes questões nas áreas de matemática e ciências da computação, estudos sobre a física da matéria e do universo, a criação de novos materiais e o desenvolvimento de novas estratégias para proteção do meio ambiente.

Uma nova imagem de Júpiter


Três trabalhos publicados esta semana na revista Nature respondem a uma pergunta que cientistas se fazem desde os tempos de Galileu: O qué são as bandas coloridas de Júpiter? Um deles, publicado pelos pesquisadores do Instituto Weizmann de Ciências Prof. Yohai Kaspi e Dr Eli Galanti, revelou que as celebres bandas, cintos de fortes ventos que circulam ao redor do planeta, estendem se a uma profundeza de uns 3.000 km. Muito mais do que se pensava, e que faz os cientistas revisar o que se sabia da atmosfera de Júpiter.

Este avanço, junto a um outro trabalho publicado no mesmo número da revista por cientistas da Universidade de Roma, e avaliado em forma conjunta por um terceiro, do Observatorio da Costa Azul sugere que por debaixo do nível dos ventos, o gás rota como um corpo único, como si fosse um solido. Estes três papers, em conjunto, revelam uma nova imagem de Júpiter.

Leia mais: Unveiling the Depths of Jupiter’s Winds

Palestra da Profa. Elisabetta Boaretto, diretora do Centro Kimmel para Ciências Arqueológicas e do Laboratório D-REAMS do Instituto Weizmann de Ciências

No evento público realizado em São Paulo, a professora Elisabetta Boaretto, pesquisadora do Instituto Weizmann de Ciências, explicou como as recentes tecnologias arqueológicas mudaram o que se conhecia da cronologia de Jerusalém.

Diretora do Centro Kimmel para Ciências Arqueológicas e do Laboratório de Datação por Radio-carbono D-REAMS, Elisabetta apresentou com grande simplicidade a abordagem, metodologia e os resultados de suas recentes pesquisas. A importância delas é grande: atribuíram a uma enorme torre de pedra construída sobre a fonte de Gihon, essencial para a sobrevivência dos habitantes da antiga Jerusalém, uma origem mil anos mais tarde do que o que se supunha. A palestra provocou debate no público no qual se encontravam cientistas, religiosos e leigos.

A professora creditou os avanços ao Instituto Weizmann de Ciências, onde a contagem de átomos de C14 em uma amostra é realizada com um acelerador de partículas, para gerar resultados precisos em objetos do tamanho de uma semente. “O Weizmann, como instituição cientifica, oferece um grande número de ferramentas fundamentais para essa análise, que permitem investigar os materiais, as amostras e os objetos arqueológicos que estamos estudando. Por esse motivo o Instituto tem grande relevância e é um dos líderes no campo da arqueologia”, destacou.

Pela relevância do projeto, a Israel Science Foundation está investindo o equivalente a 1,2 milhões de reais por um período de quatro anos para que, através da tecnologia do Instituto Weizmann, seja conhecida a verdadeira idade da ocupação humana em Jerusalém.

Os participantes do evento, de ingresso livre e organizado pelo Grupo de Amigos do Weizmann do Brasil e a Congregação Israelita Paulista (CIP), puderam observar nas imagens e na narrativa clara como se produziram estas importantes descobertas.

“Hoje tivemos a sensacional oportunidade de estar dentro de uma Sinagoga falando sobre ciência e arqueologia e conhecendo o impactante trabalho da professora Elisabetta, inclusive com a presença dos rabinos que puderam desafiá-la e das pessoas que participaram online através do Facebook”, finalizou o presidente dos Amigos do Weizmann do Brasil, Mario Fleck.

O evento contou com a presença do pesquisador brasileiro André Zular, primeiro bolsista brasileiro da Escola de Verão do Weizmann em 1983, e que atualmente faz pós doutorado no laboratório da Profa. Boaretto no Instituto Weizmann. “Pretendemos estabelecer uma colaboração entre o Weizmann e a USP para trabalharmos juntos no sítio arqueológico de Peruaçu”, frisou a professora.

26 de fevereiro de 2018
São Paulo – SP

Entrevista na Folha de São Paulo

Entrevista na Folha de São Paulo

Leia mais: Cientista quer recontar história de Jerusalém