Entrevista com Daniel Zajfman – presidente do Instituto Weizmann de Ciências

Liane Gotlib Zaidler
Especial para a Tribuna Judaica

Localizado em Rehovot, Israel, o Instituto Weizmann figura na vanguarda da investigação científica. Seus modernos laboratórios abrigam mais de 2500 cientistas, técnicos de laboratório e estudantes, que vêm fazendo grandes contribuições para a humanidade no campo das investigações científicas e no tratamento de doenças como o câncer e a esclerose múltipla, entre outras.

Daniel Zajfman, presidente do instituto israelense, que virá ao país a convite dos Amigos do Instituto Weizmann do Brasil, concede entrevista exclusiva para a Tribuna Judaica. Confira!

1 – O que Brasil e Israel podem ganhar em uma troca de experiências na área de ciência e tecnologia?

O avanço científico é um empreendimento para toda a humanidade. Ele ocorre em todo mundo, pois a ciência realmente não conhece fronteiras. Cada cientista traz em seu trabalho sua cultura e visão de mundo, e isso pode ter grande influência nas ideias, abordagens e na maneira como cada um vai conduzir sua pesquisa. Por essa razão, é muito importante que cientistas de diferentes partes do mundo trabalhem em cooperação. Em minha opinião, esta “miscigenação cultural” é extremamente frutífera.

2. Qual o segredo para que o Instituto Weizmann atingisse esse grau de excelência em ciências, tendo em seu quadro ganhadores do Prêmio Nobel?
Na verdade não existe um segredo. Para se atingir um elevado nível de sucesso é preciso atrair cientistas jovens e notáveis, e depois deixá-los seguir a sua curiosidade. Nós não lhes dizemos o que pesquisar, mas garantimos que tenham todas as condições e recursos necessários para colocar em pratica todo seu potencial como cientistas de primeira linha. Temos apenas um ganhador do Prêmio Nobel até o momento (Ada Yonath – agraciada com o Nobel de Química em 2009), mas se mantivermos a mesma fórmula, certamente conquistaremos mais prêmios no futuro.

3- Quais são as principais pesquisas desenvolvidas hoje no Weizmann visando o futuro?

Posso afirmar que é praticamente impossível prever qual será o futuro da ciência. Os avanços são muito rápidos e as descobertas científicas sempre trazem surpresas, algumas das quais acabam levando a novos rumos na investigação. As áreas que vem se destacando atualmente no Weizmann são as que combinam abordagens e técnicas de campos variados. Por exemplo, na área de sistemas de biologia utilizamos os conhecimentos e métodos de disciplinas como física e matemática para que se tenha uma espectro mais amplo e intersdisciplinar. Acredito que no futuro haverá uma ponte entre os mundos da eletrônica e da biologia humana, por exemplo.

4 -Quais as principais fronteiras a serem ultrapassadas pela ciência e tecnologia hoje, que exigem mais urgência para o bom desenvolvimento das sociedades?

O ritmo da ciência está em constante aceleração. O que não está tão claro é se as sociedades saberão o que fazer com todo esse novo conhecimento. No Weizmann, acreditamos que todos os membros da sociedade precisam ser educados sobre a ciência, e estamos concentrando esforços em diferentes níveis para levar a ciência ao público. Uma sociedade bem informada será capaz de tomar decisões racionais sobre questões que a afetem, inclusive questões éticas.

Por exemplo, testes genéticos que podem revelar a propensão para uma variedade de doenças estão se tornando cada vez mais disponíveis. Se você não tiver as ferramentas para compreender o real significado desses testes, como poderá decidir se as pessoas deverão ser informadas sobre suas chances de desenvolver uma doença no futuro? E se for uma doença para a qual não existe cura ou prevenção?

Há, é claro, outro ponto importante que é a generalização da educação científica . Se mais pessoas forem expostas à boa ciência e ao trabalho de cientistas, talvez mais jovens escolham a ciência como carreira.

5. Como é ser presidente do Instituto Weizmann? Quais são os principais desafios e conquistas desta posição?
O presidente do Instituto não é encarregado de planejar a investigação propriamente dita. Seu principal trabalho é o de identificar pessoas com potencial de liderança em seus campos de pesquisa e atraí-los para o Instituto. Além disso, o presidente deve identificar as áreas com potencial para serem os principais campos da investigação científica de amanhã, e tentar conseguir financiamentos e investimentos que garantam o futuro do Instituto. Um dos meus maiores desafios é garantir recursos financeiros que mantenham o Instituto Weizmann em constante evolução e na vanguarda da ciência mundial.

Há desafios de todos os tipos, mas é realmente um grande privilégio ser presidente do Instituto Weizmann. A cada dia temos novas surpresas que vão mudando a cara do Instituto ano após ano. Algumas das descobertas que estão ocorrendo exatamente agora em nossos laboratórios, poderão mudar o seu e o meu futuro. Embora eu não possa dizer quais são essas descobertas, posso garantir que sinto uma grande satisfação em ajudá-las a acontecer.