Amigos – retornando das comemorações do 60º aniversário do Weizmann, tomo a liberdade de compartilhar com vocês algumas das histórias que ouvi e emoções que senti.
O local escolhido para a ocasião foi Paris e Bordeaux, de modo a realizar a comemoração incluindo dois parceiros essenciais da história do Weizmann – O Instituto Pasteur e a família Rothschild. Como numa ocasião especial como esta não pode faltar um pouco de gala a se somar ao conteúdo, houve uma agenda festiva também incluindo um jantar no Palácio Versailles, com a presença de autoridades da França e embaixadores de diversos países, inclusive do Oriente Médio.
Amigos do Weizmann de 15 países lá estiveram durante quatro dias, mas para mim, o mais importante a destacar foi o discurso do ex presidente do Weizmann, prof. Haim Harari, que justifica esta minha mensagem à vocês.
Haim Harari foi presidente do Weizmann durante 13 anos, mas além de completar agora 50 anos de dedicação profissional, tem na história de sua família uma relação com o Instituto totalmente ligada às suas origens e entrelaçada com a história de Israel, começando em 1820! O seu tataravô foi fundador de Rehovot, cidade que iria mais tarde abrigar o Instituto, e foi sua avó que vendeu o primeiro terreno para Chaim Weizmann construir sua casa particular dentro do que é hoje o impressionante site do Instituto.
O prof. Harari começou seu discurso com as seguintes palavras: “ Para combater aqueles que negam o Holocausto, temos ainda testemunhas vivas e milhões de provas documentais; mas para aqueles que condenam Israel por ter sido criada como uma solução para o problema dos judeus europeus às custas de palestinos contemporâneos, é preciso olhar um pouco para a história da terra de Israel – e aí, apenas no capítulo de minha família e da história da participação de judeus no desenvolvimento de terras sob controle turco (como Rehovot), fica evidente nossa relação milenar com a terra de Israel”.
Harari destacou a seguir aqueles que na sua opinião são os pilares da sabedoria do Weizmann em seus 60 anos de existência como uma jóia de Israel para a humanidade:
1. Planejamento e Investimentos a Longo Prazo – O foco em pesquisa pura por si só já representa uma opção pelo longo prazo. A droga mais importante no tratamento de eslerose múltipla, o Copaxone, foi descoberta no Weizmann, mas levou cerca de 30 anos ir da pesquisa à aplicação universal. O Weizmann hoje tem um dos mais belos e extensos campus do mundo devido à visão de seus fundadores que compraram as terras ao seu redor pensando em um crescimento a muito longo prazo (hoje são cerca de 90 predios no campus abrigando todos os diversos laboratórios e departamentos).
2. Interdisciplinariedade – O Weizamnn foca em matemática, fisica, quimica, biologia como departamentos principais mas eles não são estanques. Existe um incentivo ao intercâmbio e à colaboração, uma vez que a visão do Instituto é de integrar todos na busca da resposta para a curiosidade científica, desde a origem do universo até a luta contra o câncer.
3. Gente – a expansão e a profundidade da pesquisa no Weizmann não têm como determinante exclusivo o capital, mas sim a atração e permanência de excelentes cientistas. A filosofia é atrair primeiro os melhores cérebros e com eles viabilizar as necessidades orçamentárias. Recentemente o Weizmann recebeu um prêmio do governo de Israel por ter sido a instituição que mais atraiu emigrantes israelenses a retornar ao país.
4. Entender o mundo antes de buscar soluções para problemas universais – O Weizmann não é uma instituição “money driven”, mas sim “curiosity driven”. Resultados materiais e comerciais são consequencias e não causas. E ainda assim, é notável saber que hoje cerca de 1/3 do budget de US$ 200 milhões anuais vêm de receitas de patentes desenvolvidas ao longo de seus 60 anos de existência.
5. Projetos Ambiciosos e Gigantes – O incentivo à curiosidade humana não pode ser limitado por restrições de tamanho ou de dimensões. O acelerador de partículas que está sendo desenvolvido na Suiça com outros países; a torre de experiências com energia solar; os laboratórios de nanofísica e as facilidades para estudos pré – clínicos são excelentes desdobramentos desta visão ambiciosa.
6. Investimento em Futuras Gerações – O pensamento no futuro sempre foi uma das prioridades. A opção pelo inglês como língua oficial do campus; o “coaching”praticado pelos grandes cientistas do Instituto, começando pelo próprio Chaim Weizmann, e seguido em todas as gerações de lideres como o prof. Michael Sela, descobridor do Copaxone e pelo prof. Ephraim Katzir , também ex presidente de Israel; e finalmente o melhor exemplo, o investimento em tecnologia de educação científica. Nós aqui do Brasil, somos boas testemunhas disto com um número razoável de ex – alunos e mais recentemente com as bolsas que temos viabilizado para estudantes brasileiros – agora em Julho novamente mandaremos 3 alunos (na banca de seleção deste ano, contamos com o prof. Roger Chamas da USP e que fez este curso em 1983!). Também em Julho teremos 3 professores do Colégio Renascença / Bialik antendendo a um curso para professores de secundário.
Enfim, conhecer a história do Instituto Chaim Weizmann é conhecer uma parte importante da história de Israel. Ambas nos dão enorme motivo de orgulho pela contribuição judaica para a humanidade. Conhecer um pouco da obra do cientista, político e negociador, Chaim Weizmann, nos obriga a refletir sobre como a história da civilização e dos povos em geral é feita através de poucos e visionários líderes exemplares. Tomara que as atuais e futuras gerações tenham a sensibilidade para se interessar, compreender a magnitude destes exemplos e lutar pela sua continuidade. Chaim Weizmann, Ephraim Katzir, Haim Harari são gigantes a serem copiados, o que aliás vem fazendo sobejamente, o atual presidente do Instituto, o prof. Daniel Zajfman.
Mario Fleck
Presidente do grupo Amigos do Instituto Weizmann do Brasil