Pesquisa que teve participação de cientistas do Instituto Weizmann decifra com precisão inédita o que e’ o que marca o destino das células que viram sangue. O futuro na terapia do câncer e a medicina personalizada.
Quando o presidente Bill Clinton fez o anuncio do rascunho da primeira sequência completa do genoma humano, ele disse “Estamos conhecendo a língua com a qual Deus criou a vida”’. Quinze anos depois, e muito mais o que se sabe.
Virar célula adulta de verdade, ou seja com capacidade de cumprir uma função especifica como por exemplo levar oxigênio dos pulmões até os órgãos que e’ o que fazem as hemácias, e’ um largo caminho que começa na concepção. Logo depois da fusão do ovo com o espermatozoide, células simples chamadas células tronco vão se multiplicando e especializando em uma única função. O que faz as células serem tempo depois muito diferentes umas das outras e’ um processo pelo qual genes regulatórios específicos se ligam e desligam em uma ordem precisa, seguindo um plano que a sua vez esta escrito no próprio DNA. Estas regiões regulatórias normalmente estão como mascaradas, protegidas por umas proteínas especiais chamadas histonas, Para ativar as instruções, e necessário abrir essa máscara de proteínas e só então a informação genética pode estar disponível para ser utilizada pela maquinaria celular.
O processo, complexo, não para nunca. O sangue está em renovação constante e as células precisam se produzir o tempo todo porque as hemácias, por exemplo, vivem apenas 120 dias. Curiosamente, aquele plano que permite que células tronco sanguíneas completamente iguais possam dar origem a células especificas tão distintas como hemácias, leucócitos ou algumas células imunes – ou as vezes tomar o caminho errado e gerar tumores – ainda não foi completamente decifrado. Nem sequer a forma de fazer isso acontecer e’ bem conhecido. Agora, cientistas do Instituto Weizmann trabalhando junto a colegas da Universidade Hebraica criaram uma nova técnica de análise epigenetico (ou seja do que influencia a informação genética). Estão de parabéns: os primeiros resultados já mudaram conhecimentos aceitos até agora.
O avanço e tão importante, que mesmo preliminar, foi publicado em uma das revistas cientificas mais importantes do mundo, a americana Science. E ciência básica que com o tempo pode mudar a maneira em que são tratadas doenças imunológicas, canceres de sangue como leucemia ou linfomas, e pode até dar assunto de conversa aos ecologistas com os oncologistas, porque o dia que este mecanismo estiver decifrado por completo, poderemos saber como o ambiente muda o nosso futuro. A vida es una simples questão de química, na saúde e na doença.
Com a nova técnica, os israelenses lograram analisar um grupo pequeno de células tronco, umas 500, com precisão suficiente como para identificar as moléculas de ADN e as proteínas involucradas na regulação do destino delas. Não e um microscópio: nem a lente mais potente permite ver o que acontece na arquitetura das moléculas do interior de cada célula. Para ter uma ideia, o ADN de uma única célula mede esticado unos dos metros, mais enrolado no núcleo não ocupa mais do que a cinco milionésimas parte de um metro. E além disso, eles não procuravam uma imagem estática mais um processo que devia mudar com o tempo, como num filme.
A técnica que eles desenvolveram não gera imagens, mais coloridos gráficos de linhas e pontos que devem se enxergar com os olhos do conhecimento. Mais foi assim como os cientistas Ido Amit e David Lara Astiaso, do departamento de Imunologia do Weizmann, junto aos colegas da Universidade Hebraica de Jerusalém, Prof. Nir Friedman e Assaf Weiner, enxergaram pela primeira vez a dinâmica da interatividade entre o ADN e as proteínas histonas durante a fabricação do sangue. Os genes que se ligam e se desligam segundo necessidade respondem a chaves que permitem esta ativação. Graças a esta nova técnica de perfil epigenetico (que mostra as influencias não genéticas no ADN) identificaram as sequências exatas de ADN, assim como as proteínas regulatórias que esta involucradas no processo de marcar um destino a cada célula tronco sanguínea.
Tiveram outros resultados inesperados. O que eles comprovaram foi que a metade das sequencias reguladoras se abre em estádios de desenvolvimento celular nos quais se pensava que a sorte já estava decidida. “Isso muda todo a nossa compreensão do processo de decisão do destino das células do sangue”, diz Lara Astiaso. “Sugere que o processo e mais dinâmico e flexível do que se pensava”.
A pesar de que a pesquisa foi realizada em células de rato, os cientistas acreditam que o mecanismo e o mesmo para outros tipos de células. “Esta pesquisa cria grande entusiasmo no campo. E um trabalho que define a base a estudar em humanos” diz Weiner.
A descoberta do mecanismo exato que controla o destino das células tronco do sangue traz junto a promessa de novas ferramentas de diagnostico, estratégias inovadoras de medicina personalizada e regenerativa e até a possibilidade de pensar intervenções nutricionais que possam reprogramar o sistema celular para que cumpra todo o seu potencial. Se conseguir apenas uma parte disso, já terá valido o esforço.