A Torre de Jerusalém é menos Antiga do que se Supunha

A datação ultraprecisa retira cerca de 1000 anos da idade anteriormente atribuída ao monumento

A Fonte de Gihon, um pouco abaixo da cidade antiga de Jerusalém, foi essencial para a sobrevivência de seus habitantes, e arqueólogos escavaram as ruínas de uma enorme torre de pedra construída sobre essa fonte vital de água. Com base nos utensílios de cerâmica e outras constatações regionais, os arqueólogos haviam atribuído a torre anteriormente ao ano 1.700 AC. Entretanto, novas pesquisas conduzida pelo Instituto Weizmann de Ciências comprovaram que as rochas na base da torre foram colocadas por volta de 1000 anos mais tarde. Entre outras coisas, os novos resultados destacam a contribuição de métodos científicos avançados para a compreensão da história da região.

A Dra Elisabetta Boaretto, responsável pelo Laboratório de Datação por Radiocarbono D-REAMS, do Instituto Weizmann de Ciências e pelo monitoramento no Centro Max Planck-Weizmann de Arqueologia e Antropologia Integrativas, teve a oportunidade de datar a torre como parte de seus projetos cooperativos permanentes com a agência israelense de antiguidades (Israel Antiquity Authority – IAA). Desde 2012, os
 Drs. Joe Uziel e Nahshon Szanton do IAA, em escavações permanentes em torno da torre, descobriram que a torre não foi construída sobre o substrato rochoso. “Os blocos no alicerce da torre, em si” – explicou Boaretto – “não forneceram qualquer informação, a não ser o fato de que as pessoas que os assentaram tinham a capacidade de movimentar esses blocos de rocha pesadíssimos. Mas por baixo dos blocos, o solo apresenta as camadas típicas dos estratos arqueológicos, e essas camadas podem revelar a data mais recente em que o local foi ocupado, antes da construção da torre.”

A abordagem exclusiva e metódica da equipe do laboratório D-REAMS começa pelo planejamento e execução das amostragens e das escavações em campo, desde o início – em conjunto com os arqueólogos locais. “Sujar as mãos faz parte do desenvolvimento de uma cronologia confiável” – disse Boaretto. Durante o trabalho de campo conduzido com os arqueólogos, e mais tarde em seu laboratório com a estudante de pós-doutorado, Dra Johanna Regev, Boaretto identificou diversos estratos claramente delineados. Entre esses estratos, as cientistas coletaram restos de carvão, sementes e ossos – matéria orgânica que pode ser datada com precisão utilizando o radiocarbono.

A primeira datação foi conduzida nos níveis intermediários de sedimentos da torre, e as datas de fato coincidiam com as propostas originalmente. “Porém, havia mais meio metro de sedimentos entre os materiais que haviam sido datados e a grande pedra fundamental” – disse Boaretto. “Imediatamente passamos a considerar
 que essa camada poderia representar mais algumas centenas de anos antes da colocação da pedra fundamental.” A presença de camadas separadas e sequenciais que identificaram utilizando ferramentas microarqueológicas e datação com radiocarbono permitiram às pesquisadoras atribuir novas datas aos estratos logo abaixo da torre.

O método de datação por radiocarbono se baseia na contagem de átomos radioativos de C14 em amostras. Esses átomos de carbono são encontrados em seres vivos, em proporção mínima, porém estável em relação ao carbono comum, e começam a decair a uma taxa conhecida após a morte. No Instituto Weizmann de Ciências, a contagem de átomos de C14 em uma amostra é realizada com um acelerador de partículas, de forma que pode gerar resultados precisos em objetos do tamanho de uma semente.

Os dados revelados pela datação por radiocarbono atribuíram um ano entre 800 e 900 AC. Isto representa 1000 anos mais tarde do que o que se supunha até então, e desloca o prédio da torre para outro período histórico, totalmente diferente do anterior, passando da Idade do Bronze para a Idade do Ferro.

Para completar o estudo, Boaretto e sua equipe questionaram se uma outra explicação poderia permitir que a torre tivesse sido construída em
 um período anterior – reparos, por exemplo – mas a presença de grandes blocos acima das camadas de solo contendo resquícios de atividades cotidianas parecem ser evidência a mais correta. Boaretto: “A datação definitiva e científica dessa grande torre, deslocando-a para um período posterior ao que se presumia antes, terá repercussões em outras iniciativas de datação de construções e ocupações na Jerusalém antiga.”

 

A pesquisa da Dra Elisabetta Boaretto tem o apoio do Laboratório de Espe- ctrômetros de Massa e Acelerador de Partículas de Dangoor.