O caminho do estresse no corpo

 O caminho do estresse no corpo

Janeiro, 27, 2021

Cientistas revelaram a resposta ao estresse como nunca foi vista antes, identificando possíveis novos alvos de drogas. O avanço de pesquisadores do laboratório de Neurobiologia conjunto do Instituto Weizmann de Ciências com o Instituto Max Planck de Psiquiatria da Alemanha podem ser relevantes para uma série de doenças relacionadas ao estresse, desde ansiedade e depressão até síndrome metabólica e diabetes.

Liderados pelo Prof. Alon Chen, os pesquisadores usaram novas tecnologias para seguir o caminho do estresse no corpo, mais especificamente no chamado “eixo de estresse” que se origina no cérebro atravessa a hipófise ao lado do cérebro e finaliza em umas glândulas localizadas acima dos rins (supra renais) que produzem o hormônio cortisol. Quando o eixo de estresse é ativado de forma contínua, há produção contínua de cortisol que contribui substancialmente para os sintomas do estresse crônico.

Os achados, publicados no periódico Science Advances foram obtidos com uma técnica relativamente nova que permite identificar diferenças entre todos os tipos de células.

A equipe mapeou toda a extensão do eixo de estresse, verificando as atividades de 21.723   células únicas ao longo do percurso. E eles realizaram essa análise em dois conjuntos de camundongos – um sem estresse e outro exposto ao estresse crônico. Eles observaram que, à medida que a mensagem de estresse passava de um órgão para o outro, a expressão genética nas células sofreu maiores alterações. A equipe encontrou 66 genes que foram alterados no hipotálamo entre camundongos normais e estressados, 692 nos hipófise e 922 nas suprarrenais.

A resolução sem precedentes da técnica permitiu aos pesquisadores identificar, pela primeira vez, uma subpopulação de células supra renais que possam desempenhar um papel crucial na resposta ao estresse e adaptação. Entre outras coisas, a equipe identificou um gene, conhecido como Abcb1b, e descobriu que ele se expressava de forma excessiva nessas células em situações de estresse. Os cientistas acham que ela desempenha um papel na liberação de cortisol.

As descobertas em camundongos são relevantes para os humanos? Em colaboração com pesquisadores de hospitais universitários no Reino Unido, Alemanha, Suíça e EUA, os cientistas obtiveram glândulas suprarrenais que haviam sido removidas dos pacientes para aliviar os sintomas da doença de Cushing. Embora a doença seja resultado de um crescimento na hipófise, o resultado pode ser idêntico ao estresse crônico – ganho de peso e síndrome metabólica, pressão alta e depressão ou irritabilidade – por isso, em alguns casos, é tratado pela remoção das glândulas suprarrenais, reduzindo assim a carga hormonal de estresse dos pacientes. De fato, as células supra renais desses pacientes apresentaram um quadro semelhante ao dos camundongos no grupo de estresse crônico.

O gene identificado, Abcb1, era conhecido pelos pesquisadores de estudos anteriores sobre a genética da depressão. Descobriu-se que esse gene é polimórfico – tem várias variantes – e que pelo menos uma versão está ligada a um risco maior de depressão. O grupo analisou a expressão dessa variante em exames de sangue feitos de um grupo de indivíduos que sofrem de depressão e que foram submetidos a estresse temporário. Eles descobriram que certas variantes afetam, de fato, a maneira como as glândulas supra renais lidam com sinais de estresse descendo o eixo.

  O estresse crônico pode abrir a porta para inúmeros problemas de saúde. “A maioria das pesquisas neste campo se concentrou em padrões crônicos de estresse no cérebro”, diz o Prof. Chen. “Além de apresentar uma possível nova meta para o tratamento das doenças decorrentes do estresse crônico, os achados deste estudo abrirão novos rumos para futuras pesquisas.”

Saiba mais: Stress on Every Cell: Mapping the Stress Axis in Detail