A controvérsia da oliveira

 

Seção transversal de um ramo de oliveira. O segmento é datado por radiocarbono. O retângulo vermelho mostra o crescimento em anos de “efeito bomba”.

 A controvérsia da oliveira

Com metodologia de alta precisão, os cientistas do Weizmann geram um novo olhar em torno da data de uma antiga rama de oliveira, a erupção do Vulcão da ilha de Santorini e os achados da região mediterrânea a partir de então.

A erupção do vulcão da ilha de Santorini, há uns 3.000 anos atrás, foi datada por diferentes pesquisadores de forma aproximada, com uma diferença de quase 100 anos entre eles. E um único galho de oliveira achado nas cinzas converteu-se no centro de uma controvérsia entre arqueólogos e dendrocronólogos (a  ciência  que  estuda o  crescimento das  árvores e  sua relação  com variáveis do  ambiente por  meio  da  análise  dos  anéis  de  crescimento). Agora, pesquisadores do laboratório da professora Elisabetta Boaretto, do Departamento de Arqueologia Científica do Instituto Weizmann de Ciências, trazem um novo olhar aos diferentes métodos.

Os cientistas do Weizmann se concentraram no fato de que o crescimento anual da oliveira não é uma história simples.  Embora uma seção transversal de madeira de oliva mostre anéis um pouco concêntricos, os círculos claros e escuros visíveis a olho nu não representam anos únicos de crescimento. Os anéis mais escuros podem ser uma espécie de coloração, em vez de sinais de ciclos anuais. Para contornar isso, a equipe arqueológica que estuda o galho de Santorini fez uso de microtomografia computadorizada (microCT), encontrando pequenas variações de densidade que  pareciam representar crescimento anual.

Mas o Prof. Boaretto do Weizmann, o Dr. Yael Ehrlich e o Dr. Lior Regev decidiram voltar ao básico e perguntar: As variações observadas nos estudos de microCTs realmente representam anéis de crescimento anual, e se assim for, o último anel (e portanto sua data) no ramo de Santorini seria testemunha da erupção? Sua resposta foi uma retumbante: mais ou menos.

A equipeusou vários métodos independentes para estudar e datar o crescimento dos anéis de um galho de cerca de 70 anos e aplicaram datação por microCT e radiocarbonode alta resolução em vários segmentos. Os pesquisadores buscavam identificar o “efeito da bomba” – uma duplicação da concentração de radiocarbono na atmosfera que ocorreu na década de 60 devido aos testes de armas nucleares atmosféricas daqueles anos.

Boaretto e sua equipe realizaram 100 determinações de radiocarbono ao longo do raio de crescimento com o Dangoor Research Accelerator. Com essas medidas de alta resolução, mapearam a inclusão de radiocarbono de testes nucleares na madeira ao nível de um mês, e compararam-na com a distribuição global de radiocarbono daquele período. No mesmo material, a equipe mediu outros dois isótopos de carbono (12C e 13C), e estes revelaram mudanças sazonais no crescimento.

O destaque do experimento, diz Boaretto, foi que seu método é tão preciso, que puderam até identificar partes do ano quando as árvores adicionam sua nova massa – crescimento sazonal durante a primavera e no verão. Além disso, eles descobriram que os limites entre os anos geralmente podem ser observados com microCT mesmo quando a madeira estava carbonizada (como a madeira é geralmente encontrada na arqueologia).

Um segundo destaque do método de alta resolução, eles descobriram que nas camadas mais externas, logo abaixo da casca, o crescimento que compreendeu algo como os últimos 30 anos em suas amostras aparecia uma única banda. Isso poderia colocar em questão o método de contagem de anéis, sendo que os limites que indicariam idade estariam faltando.

Além disso, eles descobriram que as oliveiras, à medida que envelhecem, podem parar de adicionar madeira a algumas partes de seus galhos, mesmo que continuem a adicionar novos crescimentos em outros lugares. As fronteiras entre as partes ainda ativas e as mortas são invisíveis aos olhos, mas o método de radiocarbono revelou uma diferença de 40 anos na idade aparente entre duas amostras diferentes, ambas colhidas em torno da circunferência do ramo. Em outras palavras, uma amostra colhida da área mais externa de uma seção transversal de um ramo, que pode ser pensada para representar a idade da árvore no momento da amostragem, poderia indicar ser 40 anos ou mais, mais jovem do que a idade real da árvore. Essa visão sugeriu a Boaretto e sua equipe uma nova interpretação para a data absoluta dada para o “último” anel na oliveira de Santorini.

Há uma possibilidade de que a data de radiocarbono obtida do ramo não represente a data da erupção, mas sim uma data mais antiga.

A equipe de Weizmann sugeriu que, embora o estudo original de microCT da oliveira de Santorini possa ter contado anéis de crescimento reais, há uma clara possibilidade de que a data de radiocarbono obtida do ramo não represente a data da erupção, mas sim uma data anterior. A área de onde a amostra foi colhida pode ter parado de crescer décadas antes da erupção. Modelando diferentes cenários possíveis, como o crescimento não formador de anéis e supondo um fim prematuro ao crescimento no galho, a equipe mostrou que as novas faixas de data resultantes se sobrepõem à das evidências arqueológicas.

Determinar a data da erupção é importante para a pesquisa arqueológica para datar outros achados na região mediterrânea a partir desse período.

“Essa não é a última palavra sobre a datação de Santorini”, diz Boaretto. “Mas destacou, entre outras coisas, como podemos usar dispositivos modernos para verificar nossos métodos de datação, e por que precisamos voltar continuamente às questões mais básicas. Depois de definir o relógio biológico de uma oliveira com radiocarbono, é possível interpretar melhor um estudo no qual os dados vêm da contagem de anéis.”

A pesquisa da Prof. Elisabetta Boaretto é apoiada pelo Chefe do Centro de Ciências Arqueológicas Helen e Martin Kimmel; o Laboratório de Espectrometria de Massa do Acelerador de Pesquisa Dangoor; o Instituto Serrapilheira; e Dana e Yossie Hollander. A Profa. Boaretto é titular da Cátedra da Dangoor de Ciências Arqueológicas.

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