Hoje, Coordenador do Centro de Investigação Translacional em Oncologia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo e Membro da Academia de Ciências dos Estados Unidos
Faz parte do Comité Científico dos Amigos do Weizmann do Brasil
“No Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, que sedia a Disciplina de Oncologia da Universidade de São Paulo, interagimos com o grupo de Rony Seger, do Departamento de Regulação Biológica do Weizmann já há alguns anos, com projetos financiados pela CAPES e FAPESP. A experiência do grupo de Seger na área de comunicação entre células, e como os sinais químicos modificam o comportamento das células normais e tumorais é de grande interesse para nós. Além disto, este grupo é pioneiro numa forma de combinação de tratamentos que pode ter um grande impacto para o controle do melanoma, tipo de câncer de pele que estudo com meu grupo aqui em São Paulo.
Uma aluna de doutorado de meu grupo fez parte de sua tese no Weizmann, e atualmente uma pós-doutoranda do grupo de Deborah Schechtman do Instituto de Química da USP, com quem colaboramos neste projeto, trabalha no grupo de Seger. Colaboramos nesta abordagem de inibição dos sinais que mantém células cancerosas vivas.
Voltamos ao Weizmann há dois anos atrás para um Simpósio entre Weizmann e grupos brasileiros. Fomos muitíssimo bem recebidos, conversamos sobre nossos interesses comuns; e, visitamos alguns locais em Israel, ao mesmo tempo que alinhavamos estudos em colaboração. A atmosfera não mudou – os mesmos valores de respeito à Educação e à Cultura estavam presentes. Todas as conversas fluíam com muita facilidade e eram muito produtivas. A atividade científica ultrapassa a técnica; é um veículo para a mais alta diplomacia.
Tenho vívidas lembranças do programa, que deu contornos mais reais ao interesse que tinha na época em Bioquímica e Biologia Celular. Minhas escolhas subsequentes tiveram clara influência da experiência vivida no Weizmann, que me mostrou que aquilo que eu idealizava sobre a atividade de pesquisador/cientista era atingível. Hoje sou pesquisador; e, continuo trabalhando para ser cientista.
Em 1982, cursava o 3o ano científico no Colégio Dante Alighieri. Meus pais sempre estimularam nossa aprendizagem nas áreas de Ciências e Matemática. Professores ligados à Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Remate Watanabe e Shigueo Watanabe) organizavam grupos de estudo de solução de problemas de Matemática, e nos estimulavam a participar das Olimpíadas, que começavam a se tornar populares nesta época. Numa destas atividades, meu pai soube do concurso para participação no 15th Dr. Bessie Lawrence International Summer School e estimulou minha inscrição. O concurso foi organizado pela Federação Israelita e pela Academia de Ciências do Estado de São Paulo.
A seriedade com que o concurso foi organizado e como as etapas de preparação para nossa ida ao Weizmann foram conduzidas deixou-nos muito clara a prioridade dada à Educação e à Cultura que o grupo da Federação Israelita defendia. Conhecia de fato muito pouco da cultura judaica até então, ouvia pelos meus colegas e interessava-me pela forma de organização da sociedade. Ficava impressionado como se produzia em termos gerais em Israel, apesar das adversidades e estado de tensão, por conta das lutas armadas, que imaginava existir.
Ao chegar em Rehovot, tive uma impressão muito, muito mais vívida sobre a valorização dada à Educação e à Cultura. Fiquei impressionado pelo respeito à multiculturalidade e a liberdade às diferentes religiões. O valor dado ao trabalho que imaginava existir foi confirmado, e o uso intensivo da tecnologia mostrou um lado das ciências que as tornavam ainda mais fascinantes para mim. Para minha surpresa, não havia a tensão no dia-a-dia que imaginava existir. O grupo, formado por 66 jovens de diferentes países do mundo e de diferentes religiões, mostrava na prática o valor dado à multi culturalidade e o respeito às diversas religiões.
Durante o programa, uma venezuelana, um canadense e eu estagiamos num laboratório de Diferenciação Celular, liderado por Michael Jaffe. Nosso objetivo era acompanhar como se dava o processo de reorganização do núcleo das células que se diferenciavam em fibras musculares. Trabalhamos três semanas no laboratório, entendendo a linguagem e delineando experimentos que nos permitiam acompanhar este processo celular, essencial para a vida dos seres compostos por células que se especializam e exercem diferentes funções.
As atividades no laboratório eram acompanhadas de seminários e discussões com os demais participantes do curso de verão, todos ao final do ensino médio, e iniciando suas faculdades. Éramos estimulados a fazer perguntas, entender novos conceitos e acima de tudo a criticar nossas respostas. A interação era entre os alunos e tutores (3 para 1, em geral), que estimulavam a aprendizagem.
Nos finais de semana, viajávamos com o grupo todo a diferentes áreas de Israel- Jerusalém, Negev, Galileia, visitando seus pontos turísticos e entendendo um pouco mais da história do povo judaico. O respeito que sentia pelos valores do povo judeu que conhecia se consolidaram.
O curso de verão mostrou-me um pouco sobre o que era a atividade de pesquisa; e, como esta atividade é fascinante. Éramos estimulados a fazer perguntas e tentar respondê-las, com o tipo de experimento necessário. Foram pouco mais de cinco semanas, muito intensas, que me mostraram que caminho seguir ao longo do curso superior: busquei cursos em outras unidades de USP, onde estava matriculado, para completar minha formação em Biologia Celular e Molecular, fiz Iniciação Científica, como monitor do Departamento de Patologia da Faculdade, trabalhando no Laboratório de Oncologia Experimental.
Fico satisfeito de saber que lideranças científicas nacionais de altíssimo valor têm conduzido o processo de seleção anual para jovens participarem desta incrível experiência que é o curso de verão do Instituto Weizmann. O curso desperta vocações; desmistifica a atividade de pesquisa científica, reforça o que é mais importante na atividade de investigação: a crítica. Será muito interessante seguir cada um destes universitários que foram selecionados e participaram do curso de verão. Acima de tudo, um grande capital humano.