André Zular

Bolsista de 1982

Pesquisador Pós Doc
Laboratorio de Rádio-carbono D-REAMS
Centro Kimmel Center de Estudios Arquelógicos
Instituto Weizmann de Ciências

Em 1981 cursava o 2o ano de geologia  na USP e planejava passar o ano seguinte inteiro na Europa e Israel: passeando,  trabalhando, e desenvolvendo  alguma atividade acadêmica. Pelos idos de outubro/novembro de 1981 vi na seção de classificados da revista New Scientist um anúncio do Instituto Weizmann,  promovendo a escola de verão. Em poucas semanas mandei a minha aplicação junto com cartas de recomendação de dois professores.  No início de 1982 embarquei para Itália. Em abril trabalhava numa fazenda na Islândia, quando numa conversa telefônica,  minha mãe deu a notícia que a carta de aceite do Weizmann acabar de chegar. O programa começava em julho com três meses de duração. Larguei o trabalho e tomei o rumo sul.

Era a minha primeira visita a Israel. Do aeroporto fui direto para Rehovot e no dia seguinte começou a summer school. Acredito que eu fui o primeiro brasileiro nesse programa que contava só com americanos e europeus.  Havia um certo fascínio com o Brasil na época e eu era visto com um certo exotismo.

Os meus mentores foram dois: Mordechai Magaritz e Joel Gat. Ambos já trilhavam uma carreira brilhante em geoquímica, com muitos artigos a serem publicados na Science e Nature. Confesso que no início fiquei espantado com o Magaritz. Nunca havia tido contato com uma pessoa tão criativa e inovadora – capaz de tocar vários projetos ao mesmo tempo. Era de um rigor científico notável. Muitas vezes acordava de madrugada para preparar amostras. Não queria correr o risco de algum técnico ou estagiário, cometer algum erro e não reportá-lo. Magaritz  definiu o meu projeto, que envolvia a identificação de três variedades do mineral serpentina utilizando espectrometria de infra-vermelho. Embora esse seja um método não trivial de identificação mineral, obtivemos resultados excelentes que posteriormente fizeram parte de uma publicação. Voltei ao Brasil, me formei e acabei envolvido com trabalho em outras áreas, nos EUA e no Brasil.

Depois de vinte e cinco anos afastado da vida acadêmica, resolvi voltar aos estudos. Segui com um mestrado e doutorado em geologia, com especialidade em cronologia de deposição de sedimentos utilizando o método de luminescência opticamente estimulada. E 35 anos depois do summer program, voltei ao Weizmann, dessa vez como pós-doc no departamento de arqueologia científica. A minha colaboração envolve a datação de camadas arqueológicas de um afloramento no Negev,  que refletem a passagem do homem moderno da África para a Ásia nos últimos 100.000 anos. Além disso, pesquiso também  a proveniência de cerâmicas da idade do bronze,  utilizando mais uma vez métodos não convencionais,  como catodoluminescência e espectrografia Raman.

Finalizando, a passagem pelo Weizmann em 1982 como estagiário foi marcante e despertou a vontade de voltar, para dessa vez trabalhar como pesquisador.