Organizado pelos Amigos do Weizmann do Brasil, a Profa. Regina Pekelmann Markus e o Prof. Luiz Vicente Rizzo participaram do evento virtual em que ofereceram um panorama sobre como a ciência brasileira está atuando nesse momento, da ciência básica ao leito do paciente.
A Profa. Regina é Pesquisadora Sênior e Membro do Conselho Deliberativo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, fundação pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Ela é também professora do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) e Vice-Presidente dos Amigos do Weizmann Brasil. O Prof. Luiz Vicente Rizzo, médico e ex professor da Universidade de São Paulo, Diretor Superintendente do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein.
Pontos principiais comentados pelos pesquisadores:
A professora Regina mostrou como funciona hoje no Brasil a estrutura geral dos financiadores da ciência e dos cientistas. Explicou quais são as principais fontes de recursos, tanto a nível federal como estadual, como as do âmbito privado. Explicou as peculiaridades e as diferenças entre os fundos da CAPES, destinados a formação dos cientistas, aos destinados diretamente para a produção científica e inovação como os recursos da CNPq, FINEP, EMBRAPII, FNDCT, Ministério da Saúde e BNDES. A nível estadual, a Profa. Regina colocou em valor as Fundações de amparo a pesquisa estaduais, com destaque ao trabalho que desenvolve a FAPESP, do Estado de São Paulo. E ofereceu alguns exemplos novos e históricos de investimento privado, com ênfase ao trabalho de pesquisa científica que é desenvolvido no Hospital Einstein.
Do esforço do país todo para enfrentar o Covid-19 com a ciência, ela passou para o mundo sub-microscópico das células. Fez um resumo do que se sabe acerca dos mecanismos que utiliza o vírus SARS CoV2 para produzir a infecção, e na sequência a doença Covid-19. E nomeou algumas das moléculas que estão se estudando, como a melatonina, e qual é a lógica e as evidências atrás do conceito. Explicou o que há de mais inovador e complexo, mas de forma fácil para o público leigo.
A participação do Prof. Rizzo destacou a prática médica, de como o Hospital Einstein estava se preparando para a chegada dos casos desde o mês de janeiro, situação que os permitiu receber o primeiro caso no final de fevereiro já com prévias simulações de como lidar com pacientes infectados.
Comentou alguns dos 18 projetos de pesquisa em andamento pela equipe de 30 pesquisadores do hospital- com protocolos comparilhados com outras instituições – e 4 projetos em animais. Salientou que ainda há mais quatro projetos de pesquisa aguardando aprovação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). O Prof. Rizzo exemplificou os altos custos da pesquisa científica com um exemplo esclarecedor: “Cada bolsa de plasma custa 500 dólares”.
As pesquisas do Einstein não envolvem apenas potenciais soluções terapêuticas, como as de hidroxicloroquina ou plasma, e outras focadas nos processos de anti–coagulação e imuno-modulacao. Outras procuram obter melhorias nas técnicas de diagnóstico, e há também três projetos de intervenção em saúde mental para ver quais são os métodos mais eficientes para enfrentar o burn out nos profissionais da saúde que trabalham na UTI, intervenção para pessoas em isolamento e para pacientes internados. Ele fez questão de mencionar o que chamou de “arcabouço de suporte a pesquisa”, comitês de ética, biossegurança, e o biotério, onde há ovelhas e porcos para fazer a validação de ventiladores mecânicos, e o Núcleo de Inteligência, que todos os dias faz o resumo dos novos conhecimentos que se produzem no mundo sobre SARS-CoV2 e a doença covid-19.
Das perguntas mais “urgentes” respondeu que prevê o pico entre os dias 3 e o 20 de maio, e que como a epidemia está migrando a grupos mais pobres e as UTIs públicas já estão ficando lotadas, o maior determinante na sobrevida dos pacientes será a chegada em tempo ao hospital. Relatou problema derivados da testagem, como a variabilidade na qualidade dos swab até a fiabilidade os testes disponíveis no Brasil.
“Os testes são aprovados pela ANVISA, mas não são validados. Dos 12 que testamos, 10 eram inaceitáveis, um deles que foi o escolhido era apenas aceitável. As estratégias de saída do isolamento tem que embutir um erro nos testes de ao menos 30%”’ afirmou. Foi taxativo também ao afirmar “os dados da China não batem com o que aconteceu depois na Europa ou em Nova York, o vírus deve ter surgido provavelmente em setembro e em número maior do que o divulgado” . Definiu o isolamento social como uma situação razoável, e mencionou a cidade de Los Angeles como exemplo de que o isolamento funciona.
Um dos pontos essenciais das apresentações foi a menção que a história teria sido diferente se as pesquisas feitas sobre SARS e MERS não tivessem se descontinuado quando não houve mais casos em humanos. “Mesmo com líderes como Bill Gates e Barack Obama alertando do cenário de uma possível pandemia, isto não foi incorporado como preocupação pelos grandes líderes”- frisou o Prof. Rizzo.
Mario Fleck, presidente dos Amigos do Weizmann Brasil, ressaltou que “a grande saída para recuperar a vida econômica virá da ciência”, a finalizou “hoje aprendemos que se tivéssemos investido na continuidade de uma pesquisa, não teríamos a paralisia de hoje. Não podemos repetir esse erro jamais.”
Assista na íntegra: Youtube